Nicolau dá uma gargalhada.
— Não me digas que não há uma cultura de esquerda na PJ! Já reparaste que não há suspeitos do PCP em crime nenhum? Só os nossos e os dos outros partidos é que são suspeitos mas os do PCP nunca.
— Nicolau, não é isso!
— E se for? Supõe que o secretário‑geral do PCP pode mesmo estar envolvido num crime de que a própria filha foi vitima? Achas que não é possível? Eles também são seres humanos.
Este diálogo entre a inspectora Patrícia Ponte e o seu segundo marido, Nicolau, um médico que se assume como pessoa "de direita", faz parte de "Morte na Arena" e é, em certa medida, um dos elementos que estão na origem desta história: o desaparecimento da filha do secretário-geral do PCP.
A observação de Nicolau tem razão de ser: nos grandes processos de impacto mediático não há suspeitos "de esquerda". Além do PS, que esteve em bom destaque no palco do "processo Casa Pia" (que abordei em "O Clube de Macau", publicado em 2007), e falando apenas em termos partidários, o PCP e o BE estão ausentes. Estão, de certa forma, em situação de... à revelia.
Este aspecto curioso da justiça portuguesa levou-me a orientar "Morte na Arena" num certo sentido: a cumplicidade de políticos e homens de leis da "esquerda".
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