quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A lagoa do cocó

 
O autocaravanismo tem regras. Regras de conduta e, pelo que se sabe, regras impostas pelo Código da Estrada, em geral, e pelos municípios, em particular. Do respeito pelos outros ao despejo das águas ("cinzentas", dos lava-louças e outras lavagens, e "negras", as dos excrementos), passando pela consideração para com os outros.
(Os pormenores sobre as regras de conduta e as boas práticas encontram-se aqui, aqui e aqui, por exemplo.)
Caldas da Rainha tem um parque para caravanas público, na Foz do Arelho com acesso praticamente directo à Lagoa de Óbidos e à praia, onde se podem fazer despejos e onde a pernoita custa 4,50€.
Estranhamente, o parque não está assinalado.
Nem no próprio local nem nas proximidades.
 


 
Ontem de manhã estavam estas seis autocaravanas (foto de cima) no parque.
Mas fora do parque, no largo da Foz do Arelho que ficou tristemente conhecido por ter sido onde arderam os bares de madeira, também se encontravam autocaravanas.
E em maior número do que no parque oficial:






É um sítio público que deste modo se transforma num parque de autocaravanas onde algumas das regras de conduta não podem ser aplicadas. E onde o despejo das águas, "cinzentas" e "negras", se faz... para onde?
Para o lado esquerdo do parque, a caminho da Lagoa de Óbidos, encontram-se outros exemplos de estacionamento selvagem das autocaravanas.
Esta, por exemplo, já está aqui há vários dias:
 



Com uma bela vista para a lagoa, claro. E sem pagar mais nada.
E os despejos serão feitos onde? Onde estamos todos a pensar que são feitos?!...
Avançando mais para a Lagoa de Óbidos, ainda se encontra melhor.
A três ou quatro metros da água (bastante poluída, por sinal) encontravam-se estas duas autocaravanas. Com um barco e um caiaque que dão sempre jeito quando há por perto uma superfície de água tão apetecível para passear.
 
 
 
 
E as tais águas "negras" irão para onde? Pois...
Não muito longe, olhando para a água (de onde vem um cheiro que aqui não se consegue reproduzir), dá para ver um exemplo da poluição que afecta a Lagoa de Óbidos:




A Lagoa de Óbidos não sofre só do assoreamento que, um dia, a secará por completo. Sofre também da porcaria que para lá deitam e do desinteresse das autoridades municipais e policiais (o parque é quase clandestino e o estacionamento é à balda...).
Até talvez seja bom, por isso, que a denominação oficial omita Caldas da Rainha para que não se repare muito na vergonha.
E perante isto tudo, perante este lago de cocó em que a Lagoa de Óbidos se vai transformando, este exercício de autocomprazimento é grotesco:




Esta passeata é um desafio obsceno ao bom senso e uma provocação à própria noção de responsabilidade pública, merecedor de duas punições: ou um banho involuntário onde a porcaria é maior (infelizmente, não aconteceu) ou uma banhada nas urnas.
Que, já agora, também levasse a Junta da Freguesia da Foz do Arelho, que assistiu impávida a isto.




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