Não há melhor imagem para simbolizar o uso da máscara cirúrgica fora de situações de perigo concreto e real do que a da galinha, com o seu ar apatetado e com uma máscara no bico como se fosse um amuleto com poderes mágicos.
Foi nesta galinha que pensei logo quando vi hoje, numa aula de Pilates, uma praticante a pôr as mãos no chão e a pôr depois a máscara na cara com ar muito compenetrado. E depois um sujeito, entre o supermercado e o carro estacionado, com o pano milagroso bem aferrolhado na cara quando não havia mais ninguém à volta dele. Calculo que deve ter depois ido a conduzir com a coisa posta na fronha.
E lembrei-me, como me lembro sempre, de outra cena que presenciei num restaurante no Alentejo: um homem a entrar de máscara, a espirrar com ranho dentro da máscara e a limpar as ranhocas todas com a máscara... que não tirou da cara.
O significado político e a inconveniência de um trapo tratado como amuleto estão bem comentados num escrito notável de Pedro Almeida Vieira em "Gripe, máscara e a saúde pública (de novo) politizada" (que pode ser lido na íntegra aqui), que subscrevo sem reservas.
Só acrescento a minha inquietude perante o modo irracional como estas, e outras pessoas, aceitam que a privação da respiração mais saudável, o medo perante circunstâncias que não conseguem, ou não querem, compreender e a submissão às "autoridades" as transformam em galinhas numa capoeira.
(Imagem de fonte aberta de acesso público.)

Sem comentários:
Enviar um comentário