sábado, 14 de setembro de 2013

As termas de Caldas da Rainha acabaram

 
Não acreditam?
Leiam outra vez: as termas de Caldas da Rainha acabaram.
E agora façam o favor de me acompanhar:
 
1 - As termas e o hospital termal de Caldas da Rainha são, nesta altura, um processo bloqueado. Localizadas no centro da cidade, são relativamente importantes para o concelho (pela tradição, que não alimenta ninguém, e pelo dinheiro que os seus frequentadores podem deixar na cidade nos sectores da hotelaria e da restauração). Mas, pela sua localização, não são convidativas para os visitantes (turistas potenciais) que se deslocam em carro próprio. E quem não tem carro próprio vem para as termas... e fica na cidade. Quais são os atractivos da cidade de Caldas da Rainha e de quanto tempo precisa uma pessoa para percorrer e a zona central da cidade?
 
2 - Caldas da Rainha não tem notoriedade turística assinalável. Tem activos turísticos importantes (da costa atlântica ao património histórico) mas nunca os promoveu, nem defendeu. Até porque não os conhece. As entidades municipais, essa coisa de fantasia unipessoal que era a "Turismo do Oeste" e as elites urbanas nunca souberam, nem quiseram, criar uma imagem turística para o concelho. Toda a gente acha que as tasquinhas da Expoeste são capazes de reabilitar o turismo no concelho. É uma perspectiva melancólica de quem não vê além do próprio umbigo... sobretudo depois dos comes e bebes.
 
3 - Óbidos conseguiu uma notoriedade turística invejável. A situação geográfica, com o castelo no topo, foi um bom princípio. Depois, o chocolate (uma simples receita de notoriedade que qualquer município pode utilizar), o Mercado Medieval (transformado em tasquinhas mas, para todos os efeitos, já com uma boa imagem) e muitas actividades culturais com o castelo por cenário fizeram o resto, potenciados por uma oferta de alojamento turístico muito diversificada, com o atractivo do golfe. Repare-se que Óbidos não confiou nas suas praias nem na Lagoa de Óbidos (e adivinhem lá quem é que ganha com a designação...) para alcançar essa notoriedade turística. Foi à procura dos elementos que, de raiz, a poderiam criar. E acertou.
 
4 - Caldas da Rainha pode chamar frequentadores das termas que queiram passar os seus períodos de tratamento dentro de uma cidade que se vê em dois dias. Um centro termal em Óbidos (as Termas das Gaeiras - vão ver o anúncio de meia página da câmara de Óbidos na página 8 da "Gazeta"), fora da vila e numa zona convidativa para visitantes com viatura própria, transforma-os em turistas que se passeiam pela região, interessados nos atractivos turísticos da região e, no caso de Óbidos, do pitoresco comercial da vila e do castelo. Para eles, Caldas da Rainha pode ser um passeio de meio dia.
 
5 - O desenvolvimento das Termas das Gaeiras atrairá a Óbidos mais frequentadores que também serão turistas. A concorrência é sempre saudável, até por ser estimulante, e o mercado das termas não está esgotado. Mas as termas de Caldas da Rainha vão inevitavelmente passar para segundo plano. Atrairão frequentadores de meios mais limitados. Ainda sobejarão algumas receitas locais. Mas se surgir um complexo turístico de oferta diversificada ao lado das Termas das Gaeiras, com bons meios de acesso e de ligação às termas... adeus, termas de Caldas da Rainha.
 
6 - Um projecto como o das Termas das Gaeiras não se faz em dois ou três dias. Já deve levar semanas de existência. Não é, com certeza, um segredo de Estado à escala municipal. Quando os candidatos do PSD de Caldas e de Óbidos andaram a passear no seu "love boat" da Lagoa de Óbidos já o deviam saber. Mas o candidato caldense ficou calado. O candidato do BE em Caldas da Rainha trabalha na empresa municipal de cultura de Óbidos. Também o devia saber. Mas ficou igualmente calado. Anda tudo distraído.
 
7 - A polémica sobre as termas e o hospital termal de Caldas da Rainha dura há meses. As elites políticas de Caldas da Rainha deixaram-se enredar em debates estéreis sem, como já é costume, perceberem que há mais mundo para lá das muralhas da cidade. Agora... nem sabem o que hão-de dizer. Ou, então, não percebem nada do que está a acontecer. Não são diferentes da elite bizantina que, segundo a lenda, se entretinha a debater o sexo dos anjos quando já tinha o inimigo à porta.
 
8 - O bloqueio mental das elites caldenses dá habitualmente nisto: perdem-se em campanhas cegas e não são capazes de ver a realidade. Andaram entretidos aos gritos por causa do Hospital das Caldas e não serviu para nada a não ser para encher preguiçosamente as páginas da "Gazeta". O mesmo se passou com a Linha do Oeste: os protestos e as movimentações deram nisto - parece que agora há mais comboios entre Caldas da Rainha e Coimbra... mas Caldas da Rainha está mais ligada, e em tudo, a Lisboa do que a Coimbra.
 
A campanha eleitoral - e, nem de propósito, o projecto das Termas das Gaeiras é apresentado hoje com pompa e circunstância - podia servir para debater estas assuntos numa perspectiva de futuro. Mas não me parece que seja isso que vá acontecer. 

Sem comentários: