Já conhecia a "Gazeta das Caldas" antes de vir viver para Caldas da Rainha por encontrar este jornal em casa de um grande amigo meu em São Martinho do Porto.
A "Gazeta" teve, desde o início, dois elementos de interesse para mim: fornecia um retrato interessante do concelho, com muitas notícias locais publicadas com um ponto de vista mais abrangente do que aquele que caracteriza a imprensa regional, e tinha muitos anúncios de imobiliário.
Tornei-me assinante para garantir que encontrava o jornal todas as semanas, quando cá vinha, e mantive-me assinante.
E fui vendo, todas as semanas e ao longo de mais de dez anos, como o jornal foi... murchando. A palavra pode parecer severa demais mas é aquilo que sinto e aquilo que, esta semana, a própria "Gazeta" confessou: as limitações financeiras que enfrenta.
Há circunstâncias muito objectivas que são sempre difíceis. Mas, olhando com atenção para a "Gazeta", é fácil de perceber que o drama deste jornal não tem só a ver com isso. Tem a ver com o alheamento que, todas as semanas, vai aumentando relativamente ao quotidiano do concelho. Conseguindo, com isso, alienar leitores e potenciais compradores e, muito provavelmente, alguns anunciantes.
Quem, à distância, folheie a "Gazeta" já não encontra nela o retrato do concelho de Caldas da Rainha.
Não há notícias sobre os problemas das povoações do interior. O incómodo das obras no meio da cidade sobrepõe-se, noticiosamente, à falta de obras fora da cidade que fazem desesperar os restantes moradores do concelho. Os problemas do concelho foram remetidos para o correio dos leitores, o que, sendo útil, é manifestamente redutor. Na sua coluna da última página e em muitos editoriais, a "Gazeta" quis intervir (e muitas vezes em tom inflamado mais próprio de um jornal partidário...) na política nacional, voltando costas à política regional. Perdeu tempo e espaço com campanhas inflamadas (o caso da Linha do Oeste é o melhor exemplo) sem perceber que isso não conduzia a nada e que conviria parar a tempo: a Linha do Oeste, por muito que isso custe a toda a gente, é um assunto encerrado, como se viu na ridícula opção de reforçar a ligação Coimbra-Caldas em detrimento da ligação Lisboa-Caldas.
A edição desta última sexta-feira é desgraçadamente exemplar. Além da nota sobre as suas próprias dificuldades (a "Gazeta" teve essa franqueza, ou a isso foi obrigada), encaixota mais um maço de entrevistas aos candidatos autárquicos de Caldas e Óbidos, faz contrastar o tom feroz de outra campanha (a do hospital termal) com o modo delicado como noticia agora o lançamento das Termas das Gaeiras (coincidindo com o anúncio de meia página que obteve) e dedica todo o correio dos leitores a artigos de opinião e profissões de fé de outros tantos candidatos autárquicos sem sequer dizer que o são e explicar essa opção. Nada de novo, infelizmente, porque já na semana anterior fez o mesmo, caucionando um chorrilho cobarde de asneiras, mentiras e calúnias de um diminuto candidato.
É possível que a "Gazeta" sobreviva à sua crise, tal como está ou noutras mãos.
Também pode ser que emigre para o "on line" e se adapte melhor nesse meio.
Ou que então feche.
Em qualquer dos casos, e relativamente ao que a "Gazeta" já foi, será sempre uma perda.
Sendo tão grande a atenção que dedica à política nacional, a "Gazeta" devia também ter presente o que aconteceu a muitos jornais que acreditavam nos "amanhãs que cantam" do jornalismo nacional.
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