Já que a questão das termas (ou ex-termas) de Caldas da Rainha, no que se refere à proposta governamental, parece ter despertado poucas atenções, o que não deixa de ser estranho, regressemos ao tema.
A "Gazeta das Caldas" divulgou na sexta-feira passada as linhas gerais da proposta que a Câmara Municipal de Caldas da Rainha já recebeu (sem no entanto indicar o remetente). Essencialmente, são estas, e tudo à conta da câmara:
- construção de um novo hospital termal, reservando as actuais instalações (fechadas) para actividades turísticas e culturais;
- cedência do Parque D. Carlos I e da Mata Rainha D. Leonor à câmara;
- direitos de exploração de água mineral natural com a designação "Caldas da Rainha";
- um investimento (obras) de 12,7 milhões de euros no prazo de cinco anos.
A proposta é interessante, ao revelar um conceito que é vantajosamente mais abrangente do que apenas a recuperação do hospital termal já existente.
Não é preciso ter-se uma licenciatura espanhola na área do turismo para perceber que uma estância termal, mais do que um simples hospital termal, ganharia com uma oferta mais global de hotelaria e cultural que passasse pela reabilitação das ruínas do parque e mesmo com uma água de marca como merchandising. O concelho ganha com mais visitantes, e com as compras de bens e de serviços que eles fazem se o actual hospital termal "ressuscitasse", mas ganharia muitíssimo mais se pudesse tornar mais vasta a sua oferta, com as termas por centro e pretexto.
Poderemos pensar que se o Governo achasse que teria dinheiro para este investimento fá-lo-ia. Não o tendo, passa-o para a câmara que, diga-se a verdade, nunca soube posicionar-se pela positiva.
Queria as termas mas não queria gastar dinheiro e disse-o abertamente. E como não está, neste caso, a discutir obras públicas (e eventuais contrapartidas de âmbito privado), teria sido melhor usar de maior discrição.
Um presidente impotente
Agora, como popularmente se diz, o presidente da câmara, Tinta Ferreira, ficou (mais uma vez) com as calças na mão.
Em vez de fazer contactos discretos com potenciais investidores e de tentar negociar objectivos concretos com o Governo, expôs-se a uma situação destas: ser confrontado na praça pública com a sua própria impotência.
Não vejo que Fernando Costa, por exemplo, a quem se podem (e devem) fazer muitas críticas, tivesse caído numa cilada destas. Mas, como já escrevi, o actual presidente optou por conversar com o porteiro e depois foi tratado de alto.
Por outro lado, se a atracção por obras de fachada (como o alargamento de passeios) tivesse sido contida, talvez houvesse dinheiro para as termas.
Neste processo, o presidente da câmara não fica bem na "fotografia". Disse que andava a negociar com o Governo mas nunca disse o quê (e pode-se pensar que Tinta Ferreira já sabia o que aí viria). Mas alheou-se do problema. Alheou-se da concorrência que, agora, fica ainda mais forte. Envolveu-se em obras a serem feitas todas ao mesmo tempo e, por este andar, o que caracterizará os seus quatro anos de governo municipal serão as "obras de Santa Engrácia" da cidade (de retorno zero) e situações ainda mais incontroláveis fora da cidade.
Em circunstâncias normais, numa gestão municipal normal, esta situação levaria o presidente da câmara a explicar-se, e com urgência. Cada dia que passa é mais um dia que permite constatar a ineficácia e a falta de dinamismo do que, por estranha ironia, chegou a ser apresentado como "nova dinâmica" de um PSD sem rumo.
Porque, muito simplesmente, sem dinheiro (milhões de euros) não voltará a haver termas na cidade de Caldas da Rainha.
Não vale a pena pensar em peregrinações a Bruxelas (mais valia irem a Fátima...) ou em mais grupos de trabalho. Ou conversações agora maculadas por esta espécie de enxovalho que também atinge todos os sectores políticos do concelho. Qualquer negociação, a haver e seja lá com quem for, partirá sempre de uma posição de fraqueza política.
Depois disto, aliás, talvez nem valha a pena pensar numa plataforma de consenso, que só poderia ter sido útil se o presidente da câmara fosse um intérprete interessado e competente da vontade política, social e empresarial do concelho. Não foi nem muito provavelmente será.
Como era previsível, o hospital termal continuará fechado. Os equipamentos continuarão a degradar-se. Tal como os míticos "pavilhões do parque", tornar-se-á uma casa de fantasmas.
E, ao lado, abrirão as Termas das Gaeiras. O investimento privado voltará a ir para Óbidos e o investimento público aguardará melhores dias, ou anos.
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O que já escrevi sobre este assunto pode ser lido aqui.