(...) Quarenta anos depois [do 25 de Abril], a crítica política perdeu o humor, a sátira e a capacidade de ser mordaz. Neste período em que, desde 2011, aumentaram o debate político (embora enviesado, porque restrito aos comentadores políticos) e a contestação ao governo em funções e à Troika, o humor desapareceu de vez da política. O que vemos são as expressões de fúria alucinada dos sindicalistas, a carranca de Jerónimo de Sousa, o sobrolho carregado de António José Seguro, o ar irritado de João Semedo (que na União dos Estudantes Comunistas era um tipo divertido) e a máscara de coro grego da ex-actriz Catarina Martins.
A inteligência do humor também se perdeu nas audiências televisivas e esgotou-se mesmo entre aqueles que o souberam comercializar. E, no outro extremo, afundou-se na versão rasca da liberdade de expressão do Facebook. Se uma vez por outra aparece uma fotomontagem ou um vídeo inteligentemente divertidos, também temos direito a outras fotomontagens hediondas como a sobreposição do rosto de uma personalidade odiada pela “esquerda” sobre a fotografia de um cagalhão. (...)
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