A polémica sobre a presença no Parlamento dos "capitães de Abril", e com discurso, na sessão solene do 25 de Abril, parece-me tão relevante, ou menos ainda, do que qualquer polémica sobre a existência de extraterrestres.
Os "capitães de Abril" nunca tiveram intervenção oratória na Assembleia da República e, a terem, teria de discutir-se quem é que deveria estar desse modo na sede da democracia: os "capitães" da "esquerda militar", os dos SUV, os "contra-revolucionários", do "grupo dos nove", os da ala conservadora que regressaram depois do 25 de Novembro, os otelistas, os gonçalvistas ou os eanistas?
Os unanimismos não são bons para conhecer a História e para uma visão racionalista das coisas e qualquer apóstolo da actual contestação política que não seja muito básico deveria ter a obrigação intelectual de não insistir no erro.
O 25 de Abril só foi uma data (em termos de acontecimentos) consensual no início. O 25 de Novembro foi-o bastante depois. O 28 de Setembro e o 11 de Março são agora datas simbólicas porque o que mudou foi revertido. E Vasco Lourenço, convém recordar, foi "revolucionário", foi "contra-revolucionário", foi dos "nove", foi do 25 de Novembro e agora... é uma versão pouco abonatória de Mário Soares. O que é uma verdadeira despromoção.
Se os "capitães de Abril" de 2014 querem ter uma intervenção pública formal façam-na na rua.
Reproduzam um dos debates do Conselho da Revolução, recordem os discursos de Vasco Gonçalves, encenem a intervenção dos "nove" na noite de 25 de Novembro e no dia 26 de Novembro de 1975. De certeza que terão maior audiência, até porque a sessão solene parlamentar não costuma primar pela animação.
E já agora: depois dos apelos à revolta de Vasco Lourenço, e de alguns outros "capitães", contra o poder político legitimado pelo voto popular, o mais natural seria que uma intervenção desses militares na Assembleia da República fosse um apelo ao derrube do Governo e isso não pode acontecer na sede de uma democracia parlamentar.
A democracia tem de saber defender-se.
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