quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

"Que se lixe a troika"... e nós também, com o custo da água

 
Talvez os animadores das festividades do "Que se lixe a troika" aqui nas Caldas da Rainha pudessem protestar também contra o aumento brutal do preço da água no concelho (aprovado pelo PSD, pelo PS e pelo CDS, sem protestos do PCP e do BE), que bem nos "lixa" a todos.
Ou isso talvez não os afecte, por não serem de cá, não se lavarem ou serem ricos...

Caldas da Rainha: água de luxo, serviço de merda (4)

 
Dois dias depois de ter escrito isto, vieram dos Serviços Municipalizados de Caldas da Rainha meter alcatrão em alguns buracos. E o mesmo bocado de rua ficou assim, ainda mais remendado:


Deve sair mais barato remendar do que fazer de novo

Gostava de saber onde é que enfiam o dinheiro que ganham com as diversas taxas que se juntam mensalmente ao luxuoso custo da água neste concelho.

"Morte com Vista para o Mar": o Oceano Atlântico




O que é que evoca Caldas da Rainha a quem só conhece a cidade e não o concelho ou nem isso? Louça, claro, Bordallo Pinheiro eventualmente, talvez as termas.
Há uma cidade, claro. Talvez surja associada à Lagoa de Óbidos e à praia da Foz do Arelho. Mas é só isso.
No entanto, o concelho de Caldas da Rainha é grande, com zonas rurais férteis e pequenas produções agrícolas. E tem uma frente de mar.
Desde a baía de São Martinho do Porto (que já pertenceu a Caldas da Rainha e que é agora a única ligação à costa atlântica do concelho interior que é Alcobaça) até à Lagoa de Óbidos, a fronteira ocidental de Caldas da Rainha é o mar. Tem duas praias, Foz do Arelho e Salir do Porto, e doze quilómetros de costa com uma estrada litoral que permite ver, praticamente, da Nazaré a Peniche, incluindo as Berlengas.
A frente de mar - e de sol e de vista para o Atlântico, através de campos, socalcos e caminhos escarpados - é um dos elementos mais valiosos do património de potencial interesse turístico de Caldas da Rainha mas as elites urbanas (em certos casos de um provincianismo aterrador) ignoram a costa. Daí que Caldas da Rainha não suscite essa identificação imediata com o Atlântico.
Não tem sido permitido construir, pelo menos até agora, nos campos e das falésias que dão directamente para o mar e o enigmático empreendimento turístico que já esteve anunciado para o concelho fica numa zona mais recatada (e que inspirou a história de "Morte com Vista para o Mar", com vista longínqua para o mar e para a Lagoa de Óbidos, por sinal em terras florestais. Mas o princípio é o mesmo: há gente que, no concelho, quer colher rapidamente os proveitos do investimento externo no potencial turístico por mais estranho que ele possa ser.
O mar está também presente em "Morte com Vista para o Mar" através da casa onde se exilou o seu protagonista, Gabriel Ponte (e onde há algumas mortes no desfecho).
Desse ponto, onde há realmente algumas casas com uma vista invejável, vê-se a entrada de mar da Lagoa de Óbidos e da Foz do Arelho que se confunde com o azul, ou o cinzento, do céu e o Gronho, o rochedo da margem sul (no concelho de Óbidos) que parece ainda mais ameaçador nos dias escuros de mau tempo.



O Oceano Atlântico e o Gronho, na margem sul da Lagoa de Obidos, vistos do alto da zona da Foz do Arelho
 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

"Morte com Vista para o Mar": os protagonistas




Um dos problemas centrais do "thriller" contemporâneo é a necessidade de equilibrar um quadro plausível e realista com a possibilidade de ter protagonistas em peripécias mais animadas do que as que serão vividas pela generalidade dos investigadores das autoridades policiais.
É aí que muitos autores, por mais bem intencionados que sejam, têm fracassado. E é aí também que é grande a tentação de importar modelos - um dos quais é o detective privado de alguns "clássicos" americanos, que pode fazer tudo. Cá, os detectives privados não podem.
Quando comecei a esboçar "Morte com Vista para o Mar" (depois da experiência de ter um protagonista, o inspector Joel Franco, em acção dentro do "sistema" - em "A Cidade do Medo", "Vermelho da Cor do Sangue" e "Triângulo"), tentei imaginar um protagonista capaz de agir nas fronteiras do "sistema", que fosse um inspector da Polícia Judiciária com a sua experiência de investigação mas que já não estivesse limitado pelas normas vigentes.
A personagem do ex-inspector Gabriel Ponte nasce dessa maneira.
Só que não me parecia muito plausível ter um protagonista destes a agir sozinho. No entanto, tendo sido da PJ, havia de ter tido outras pessoas com quem se dava e com quem poderia continuar a dar-se, num relacionamento que tivesse raízes externas. Imaginando-o reformado, "dei-lhe" uma filha, Patrícia Ponte, inspectora da PJ que lhe podia pedir ajuda de vez em quando.
Na primeira conversa que pude ter com a editora Ana Afonso, a minha interlocutora levantou o problema da idade. Gabriel Ponte teria, deste modo, mais idade do que a que poderia ser desejável para uma personagem desta natureza.
Uma hora depois dessa conversa, encontrava uma solução: Gabriel e Patrícia podiam ser marido e mulher. Ou ter sido. E se já não eram teria havido um problema no seu passado. Não sou partidário da transformação de jornalistas em heróis de histórias de aventuras - com excepção da saudosa série "Fantomas", talvez... - mas tinha sentido a necessidade de haver um(a) jornalista com mais protagonismo... sobretudo quando a comunicação social e o poder judicial acabam por ter certas cumplicidades. (No horizonte de Joel Franco chegou a estar um relacionamento futuro mais íntimo com a jornalista que aparece nas suas duas primeiras histórias.)
E, de um momento para o outro, esta hipótese permitia ampliar o quadro do relacionamento de Gabriel e Patrícia, criar um passado mais complexo e o episódio que levou à reforma de Gabriel Ponte e, inclusivamente, abrir caminho a um segredo que o ex-inspector mantém e que torna mais dramática a narrativa. É desse modo que surge a personagem Filomena Coutinho, que assume um papel relevante em "Morte com Vista para o Mar" e que terá presença nas histórias seguintes.
Por isso, gosto de falar das investigações de Gabriel Ponte, agora um "outsider", Patrícia Ponte, a inspectora, e Filomena Coutinho, a jornalista que pode ajudar (ou complicar) a descoberta da verdade...

A caminho das manifestações de uma só pessoa

O ministro da Economia foi a Londres e dois portugueses cantaram-lhe "Grândola, Vila Morena". A notícia está com grande relevo em todos os jornais (e só um, o "Público", destaca o número das presenças...).
É mais um símbolo do protesto "popular", claro.
Havemos de chegar ao protesto de uma só pessoa, claro, o que terá a vantagem de manter acesa a imagem da contestação e de resguardar os fundos sindicais que servem para pagar o aluguer de autocarros.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

"Morte com Vista para o Mar": apresentação no Porto


No sábado, no âmbito do Festival Internacional de Cinema do Porto/Fantasporto e a convite da direcção do festival:




Falarei sobre "Morte com Vista para o Mar", o "thriller" em Portugal e a edição da "literatura policial" no nosso país.


A posição secundaríssima de Caldas da Rainha - é de admirar que alguém se admire

 
Carlos Cipriano regista na "Gazeta das Caldas", com algum desagrado, que Caldas da Rainha aparece na mais recente edição do "Guide du Routard" localizada nos arredores de Óbidos, com uma página contra quatro de Óbidos.
Se as entidades caldenses e as suas elites nada fazem para promover o concelho (onde a cidade é privilegiada relativamente ao interior e ao magnífico litoral atlântico), quem é que há-de fazê-lo?!
A posição secundaríssima que Caldas da Rainha ocupa no mapa turístico do Oeste está bem patente na lista de 29 eventos de 2013 que a Região de Turismo do Oeste anuncia (em papel, remetendo para um link que não funciona).
Nela, Caldas da Rainha apresenta apenas um evento (a feira das "tasquinhas" na Expoeste), muito atrás de Torre Vedras (seis eventos), Óbidos e Arruda dos Vinhos (com quatro), Alcobaça e Peniche (três) e Nazaré (dois).
Perante isto, só é de admirar que alguém ainda se admire...

sábado, 23 de fevereiro de 2013

"Morte com Vista para o Mar": a arma do crime...






... talvez seja este machado.




Caldas da Rainha: água de luxo, serviço de merda (3)





Esta rua, na ex-freguesia da Serra do Bouro nas Caldas da Rainha, já esteve asfaltada. Há sete ou oito anos, parece-me.
O trabalho não foi grande coisa e as chuvas e as ruptura deram cabo da cobertura e nem o empreiteiro que fez a aldrabice nem a Câmara voltaram a dar um aspecto decente à rua.
A solução dos Serviços Municipalizados de Caldas da Rainha tem sido a mais pedreste de todas: remenda-se. Mas depois bastam a chuva ou novas rupturas para os buracos ficarem a descoberto.
A rua, onde moro, tem 1600 metros de comprimento, dos quais só 1100 estão, ou estiveram asfaltados. Os remendos, praticamente todos resultado da degradação acelerada de uma rede apodrecida de distribuição de água, já chegaram ao bonito número de 28.
Os buracos e altos e baixos que a fotografia mostram, numa rua íngreme como esta é a certa altura, ainda não deram origem a nenhum acidente, com carros ou pessoas a pé. Até um dia, como se costuma dizer...
 
 

Contestação "à la mode": as facturas nos nomes dos ministros


Parece-me algo estranho o fascínio que exerce, como forma de protesto, a possibilidade de registar no nome e no NIF dos ministros as tais facturas de que é possível tirar algum benefício fiscal.
Não só porque o benefício vai para eles - que beneméritos, ou que ricos, são os contestatários! - mas também porque esta gente, que se queixa do controlo que por essa via o Fisco pode fazer dos movimentos dos cidadãos, está a aproveitar dados fiscais (o NIF) que, da forma sistemática que parece ter, só podem ter saído das bases de dados do Fisco.
Muito significativamente, a imprensa que se regozija com a coisa lá vai citando sindicalistas do sector, que garantem a pés juntos que o volume das facturas apresentadas até pode suscitar inspecções aos membros do Governo. Ou seja, em matéria de "fontes", é um pouco o branco-é-galinha-o-pôs.
De qualquer modo, continua a ser igualmente estranho que se conteste o que parece ser a maneira mais evidente de combater a evasão fiscal: garantir que quem vende um produto ou um serviço emita a respectiva factura. Que um banqueiro fuja aos impostos parece mal mas que outros empresários o façam já é justo. Será isso?

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

"Morte com Vista para o Mar": a mão invisível




Quando há três meses, em Novembro do ano passado, foi posta em causa a continuação da série que tem por protagonista Joel Neto ("A Cidade do Medo", "Vermelho da Cor do Sangue" e "Triângulo", os três títulos da série "Não Matarás"), resolvi ir "aos mercados" com a história que nessa altura comecei a escrever com o título de "Crimes em Família", e que já tinha Gabriel Ponte e Patrícia Ponte por protagonistas, embora como pai e filha.
O meu primeiro contacto foi Manuel de Freitas (da editora 20|20), que acabara de lançar James Patterson e com quem troquei algumas impressões. Manuel de Freitas remeteu-me para Ana Afonso, a editora, a quem apresentei o meu projecto.
Numa conversa longa, Ana Afonso levantou duas dúvidas, fundadas, sobre o grau de parentesco dos dois protagonistas e sobre o título. Nessa altura alterei o grau de parentesco de Gabriel e de Patrícia (ex-cônjuges) e, com o tempo, percebi que a simples alteração desse paradigma permitia novas possibilidades de desenvolvimento de outros arcos narrativos na série que nasceria com este livro. O título foi alterado mais tarde.
Em Dezembro e Janeiro houve mais algumas trocas de impressões, abrindo-se então, e simpaticamente, outras portas. Mas a raiz estava lançada: se o futuro "Morte com Vista para o Mar" ia ganhar outra dinâmica era com base nessa primeira conversa. A resposta positiva veio um pouco mais tarde: Ana Afonso transmitiu-me o interesse da 20|20 e começámos quase imediatamente a trabalhar.
Desde muito cedo que percebi - sobretudo nas obras de alguns dos melhores autores - a importância dos editores (precisando: não das empresas que publicam mas dos seus quadros que trabalham com os autores na fase final dos seus livros). E percebi-o ainda melhor como autor e, com essa experiência, como leitor de muitas histórias reveladoras da falta dessa mão mais atenta.
O texto escrito beneficia sempre de uma última visão externa e o autor só fica mal se o que escreveu for mau.
O trabalho do editor, discreto mas fundamental, ajuda a melhorar o texto final e os leitores e os autores só ganham com isso.
"Morte com Vista para o Mar" beneficiou, desde o início, dessa mão invisível. O trabalho com Ana Afonso, num período recorde e na concretização rápida de uma decisão ponderadamente tomada, foi enriquecedor e agradável, pontuado pela atenção e pela ironia.
Todos os escritores precisam de um(a) editor(a) e eu posso dizer que tenho sido bafejado pela sorte.
Ana Afonso é a melhor editora que um projecto como este pode ter. As coisas são como são e estão bem assim.
 

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Caldas da Rainha: água de luxo, serviço de merda (2)


Hoje foi assim:

7h00 - telefonema para os Serviços Municipalizados de Caldas da Rainha a comunicar que não há água;

8h30 - O piquete dos Serviços Municipalizados saiu à procura da ruptura;

9h45 - O piquete dos Serviços Municipalizados ainda anda à procura da ruptura;

11h45 - Já tinham encontrado a ruptura.

13h05 - Trabalhos parados, intervalo para almoço.

16h10 - A água começa a regressar às torneiras, suja e terrosa. 


[Que fique claro, se por acaso é necessário: a responsabilidade por este calamitoso estado de coisas é da direcção dos Serviços Municipalizados, que sabe do estado de podridão da rede de distribuição de água, que por isso mesmo não assegura a salubridade da água que obriga os consumidores a comprar a preço de luxo e que reduziu drasticamente o serviço de piquete de avarias... apesar da fortuna que ganha com as diversas taxas que as forças políticas aprovaram.]


O "booktrailer" de "Morte com Vista para o Mar"



O "booktrailer" de "Morte com Vista para o Mar":



"Morte com Vista para o Mar" e a realidade






Em Março de 2011, a Assembleia Municipal de Caldas da Rainha alterou o Plano Director Municipal e criou o Plano de Pormenor da Estrada Atlântica para acomodar um gigantesco projecto turístico da iniciativa de duas empresas estrangeiras, que tinham como seu representante o presidente da junta de uma das duas freguesia que iriam ser afectadas.
As muitas dúvidas sobre este empreendimento, que ficaram sem resposta, foram levantadas por um blogue anónimo, sistematicamente. O seu autor, jurista de profissão, morreu em Maio de 2012.
A análise às circunstâncias do Plano de Pormenor da Estrada Atlântica está toda aqui.
E o blogue, com o registo das datas de nascimento e de falecimento do seu autor, está aqui: O das Caldas.
Foi neste quadro que me inspirei para escrever "Morte com Vista para o Mar", que também fica bem num ano de eleições autárquicas.

Porque não gosto dos CTT (46)

 
Um leitor que se assina fiodeprumo e que deve trabalhar - embora pouco - na empresa CTT começou a invadir-me o blogue com comentários que, em alguns casos, merecem resposta e noutros, à medida de algumas idiotices que contêm, não a merecem.
Informo o meu leitor de que, infelizmente, não tenho o tempo livre de que ele parece dispor em abundância e que, por isso, ainda não pude ainda responder-lhe nos casos em que merece resposta. Mas não se coíba e continue a (tentar) comentar. Pode ser que acerte...

Caldas da Rainha: água de luxo, serviço de merda (1)


Todos os meses, o valor do que pago em rubricas tão misteriosas como "trat.esgotos", "serviços diversos" e coisas assim consegue ser superior ao custo da água consumida que, só por si, já é cara.
Não se sabe para onde vai esse dinheiro porque - como sucede hoje de manhã - há mais uma ruptura na zona rural onde vivo e não tenho água.
E quando a tenho não sei se é potável porque, antes e depois das rupturas, a água torna-se escurecida como se toda a porcaria que existe no solo e no subsolo passasse para os canos... podres, completamente podres.
 
O que tenho escrito sobre o deficientíssimo abastecimento (?) de água por parte dos Serviços Municipalizados de Caldas da Rainha está aqui.
Nada mudou entretanto. A não ser - mais uma vez - a ausência de água das torneiras. O tal "bem" que dizem que é "essencial"...

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O meu novo livro






"Morte com Vista sobre o Mar"... Uma nova história com um tema novo (a corrupção nas autarquias, inspirada em acontecimentos reais), uma nova série, novas personagens (Gabriel Ponte e Patrícia Ponte, ele saído da PJ e ela inspectora-coordenadora, em tempos casados um com o outro) e nova editora (TopSeller), com apresentação no Porto (a convite da direcção do Fantasporto, em 2 de Março) e em Lisboa (7 de Março).
"Morte com Vista para o Mar", o oitavo "thriller" que publico desde 2004, já está a chegar às livrarias e em Setembro haverá mais uma história, com as mesmas personagens, intitulada "Morte na Arena".

Tom Cruise NÃO é Jack Reacher/Tom Cruise is NOT Jack Reacher (3): e talvez não volte...

 
Animemo-nos: há algumas possibilidades de o pequeno Tom Cruise não voltar a aparecer no cinema a tentar fazer de Jack Reacher.
O filme em que tentou encarnar o encorpado protagonista das histórias de Lee Child (intitulado apenas "Jack Reacher", a ver se pegava) teve resultados fracos de bilheteira e, apesar de ter sido pensado como o lançamento de uma série, não há referência no IMDB a um "Jack Reacher 2".
Como o próprio Jack Reacher sugere, é bom que estejamos preparado para mais uma desfeita como esta mas podemos esperar que Tom Cruise tenha decidido procurar outras personagens à sua... dimensão.

"Red Riding": o que "Twin Peaks" devia ter sido

Em 2010, o Canal 4 britânico lançou em co-produção um projecto de certa forma inédito: contar, em três filmes de realizadores diferentes e pontos de vista diferentes, e a partir de matéria escrita por David Peace, uma história de corrupção policial e de crimes e de homicídios em série em Yorkshire, no Norte de Inglaterra.
Com o título genérico de "Red Riding" e os títulos sectoriais de "No Ano do Senhor de 1974", "No Ano do Senhor de 1980" e "No Ano do Senhor de 1983" (respectivamente realizados por Julian Jarrold, James Marsh e Anand Tucker), esta mini-série televisiva de novo tipo chegou a ter exibição em sala nos EUA, com os três telefilmes exibidos em sessão única. Não sei se passou em Portugal, na TV ou no cinema, mas pode ser vista no conjunto, numa edição única de três DVDs da Zon Lusomundo (ao preço de saldo de 9€ na FNAC).
A edição é descuidada (com fotografias trocadas e uma tradução que chega ao ponto de escrever "teve enfiado" em vez de "esteve enfiado"...) mas permite ver os três filmes na sua totalidade e o resultado é notável. "Red Riding" acaba por ser o que a lendária série "Twin Peaks" poderia ter sido se David Lynch não tivesse cedido aos seus fantasmas juvenis: uma história fascinante que se completa numa espécie de caleidoscópio inquietante.

Afinal, a democracia não tem nada a ver com a liberdade de expressão...

 
... a avaliar pela nova forma de contestação - reveladora de uma assinalável má educação, já agora - que é a de não deixar falar os outros e de "perseguir" aqueles de quem (legitimamente) se discorda.
Era isto que em Portugal fazia o Estado Novo, na Alemanha o nazismo e noutros países o estalinismo.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Já está quase...


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

"Jaime Neves", de Rui de Azevedo Teixeira


 "Jaime Neves" (Bertrand Editora) é um livro interessante que nos revela uma das personalidades da História portuguesa que a disputa ideológica mais quis omitir.
É uma biografia que faz especial sentido depois do desaparecimento do coronel dos Comandos que se tornou uma figura duplamente lendária - como comandante de uma das mais importantes forças no terreno na Guerra Colonial e como operacional das movimentações que, em 25 de Novembro de 1975, puseram fim ao PREC.
O autor, Rui de Azevedo Teixeira, foi alferes dos Comandos e conheceu de perto o coronel Jaime Neves.
A biografia que escreveu não esconde a sua proximidade e a sua identificação com o biografado mas isso não é uma desvantagem nem diminui a importância do retrato.
Jaime Neves ajudou à "normalização" de Novembro ao lado de Ramalho Eanes e de Melo Antunes e, pela sua rebeldia e pela sua independência, suscitou a inimizade dos revolucionários e dos contra-revolucionários. Não teve os apoios políticos, e partidários, que outros tiveram e é óbvio que isso não lhe facilitou a vida.
O retrato explica muita coisa e, em especial, a personalidade do chefe militar que, em certa medida, se tornou uma lenda e a única crítica que se lhe poderá fazer com algum fundamento é, apesar de tudo, a falta de mais histórias de guerra.
Jaime Neves - e Rui de Azevedo Teixeira tem toda a razão - devia ser melhor lembrado e esta obra ajuda a conhecer e a recordar um homem que - como muitos outros - optou por servir a Pátria na frente de guerra e - também como muitos outros - nunca teve o tributo que, independentemente das circunstâncias políticas, devia ter tido.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Vamos ter todos de subsidiar a Sociedade Portuguesa de Autores?

Portanto, segundo conta o "Sol" na edição impressa da passada sexta-feira, a Sociedade Portuguesa de Autores está nas lonas, como popularmente se diz, e disfarça mal a vontade que tem de ver a sua situação financeira resolvida pela absurda "taxa sobre a cópia privada", que é uma forma de o Estado ir buscar dinheiro aos bolsos dos consumidores, para depois dar a esta entidade, a dispositivos como as "pens", os discos externos, etc. Cujos preços vão obviamente aumentar porque não serão os fabricantes a suportar a coisa.
O fundamento disto é o facto de haver quem guarde música, filmes, eventualmente jogos e sei lá que mais nesses dispositivos. Portanto, está a copiar produtos culturais (teoricamente para seu uso) e tem de pagar qualquer coisa aos autores. Mas... por que carga de água à SPA, que não tem a representação universal dos autores?!

Dois pesos e duas medidas?

É espantoso que haja quem se arranque os cabelos de fúria por um banqueiro tentar fugir ao Fisco mas que depois se mostre complacente perante os outros empresários que também o tentam fazer.
Não é a isto que se chama "dois pesos e duas medidas"?

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O "thriller" nórdico: mais dois exemplos de boa televisão

 
2011, quando "Forbrydelsen/The Killing" já era um merecido êxito, foi um ano fértil para as televisões da Dinamarca e da Suécia no domínio do "thriller".
"Bron/Broen" ("The Bridge"), uma co-produção dos dois países, e "Den som dræber" ("Those Who Kill"), dinamarquesa, parecem ser os dois exemplos mais interessantes.

A ponte do crime, Saga Norén e Martin Rohde

A primeira une as forças policiais dos dois países quando as metades de dois corpos são descobertas na ponte que une a Suécia à Dinamarca e põe em cena um par de polícias, a sueca Saga Norén (Sofia Helin) e o dinamarquês Martin Rohde (Kim Bodnia), à procura de um assassino muito inteligente. A segunda tem como protagonistas centrais uma investigadora policial, Katrine Ries (Laura Bach) e um "profiler", Thomas Schaeffer (Jakob Cedergren)`, à procura de... vários "serial killers" obviamente inteligentes.
Das duas, "Bron/Broen" é a melhor e a mais original, com uma história solidamente construída em dez episódios e um final controverso. Uma segunda temporada parece estar a ser filmada para ser emitida ainda este ano, com "remakes" já previstos para os EUA e a Inglaterra.


Laura Bach em "Those Who Kill": a sua prestação vale a série

"Those Who Kill" tem seis episódios com histórias independentes que chegam quase à hora e meia, e não esconde algumas influências como a série norte-americana "Profiler" (1996) ou o notável "Aço Azul" (1989), de Kathryn Bigelow.
Em comum, as duas séries têm heroínas muito fortes: Saga Norén é uma investigadora de comportamento associal e a interpretação de Sofia Helin faz dela uma personagem divertida e emocionante e Katrine Ries tem uma presença igualmente interessante mas difícil de desenvolver dadas as limitações das histórias.
Modestas de meios, mas com realização, produção e interpretações impecáveis, estas duas séries suscitam, como muitas outras, uma interrogação: não se poderia fazer algo de semelhante, e claro que com histórias originais, no nosso país? Aparentemente não. Talvez os produtores (e os realizadores) portugueses tenham medo de falhar...

A CGTP ansiosa por ir para a cama com o PS

 
Arménio Carlos, o patrão da CGTP, insiste e insiste e insiste na demissão do primeiro-ministro e do Governo.
Arménio Carlos (tal como os seus colegas do Comité Central do PCP) sabe que eleições antecipadas terão o PS como único vencedor.
Se o desejo de Arménio Carlos (e do PCP) se concretizar, o PS chegará ao Governo com o apoio objectivo e subjectivo de Arménio Carlos, do PCP e dos manifestantes que até já clamam por Sócrates nas intermináveis sessões de protesto dos sindicalistas da CGTP.
É isso que querem? Ir para a cama com Arménio Carlos, António José Seguro, o PS e a CGTP?

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Aquilino Ribeiro


 
Por motivos que desconheço, Aquilino Ribeiro, um dos dois autores portugueses que mais li em jovem (o outro foi Ferreira de Castro), nunca teve o devido reconhecimento. E, no entanto, foi um grande escritor e um mestre da língua portuguesa.
Os cinquenta anos da sua morte vão ser evocados em várias acções organizadas pela Associação Portuguesa de Escritores, cujos pormenores podem ser lidos aqui.

 

Uma dúvida que eu tenho

 
O "problema" do IVA na restauração não será a obrigatoriedade de emitir factura dos estabelecimentos desse sector, que agora já pode ser fiscalmente controlado?

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Porque não gosto dos CTT (45)

Não se sabe quando entregam, se entregam, a que horas aparecem, se trazem ou não a encomenda ou a correspondência, se não se limitam a enfiar o aviso na caixa do correio o mais rapidamente possível para fazerem de conta que trazem a correspondência "volumosa" quando já saem sem ela, e depois a alternativa é o pardieiro que é a estação dos correios de Caldas da Rainha onde se oferecem meia-dúzia de lugares sentados a uma dúzia de idosos e de grávidas e onde se espera e espera e espera e espera e espera e espera e espera ou então paga-se para, em três, quatro ou cinco dias, este miserável "serviço público" ir depositar num posto de correios mais perto e com menos público a tal encomenda que magnanimamente nos querem fazer o favor de entregar.
E há uns quantos, tontos de preconceitos e outras parvoíces ideológicas, que não percebem nem nunca perceberão o que é o sentido público, que defendem esta merda!

Será informação privilegiada?


Saberá o ex-secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, mais alguma coisa do que nós sabemos quando desabafa que quer mandar o Fisco "tomar no cu"?
 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Ignorância

 
Será, acho eu, impensável que um fabricante de perfumes e/ou de gel de banho lance um produto novo sem qualquer tipo de estudo de mercado, mais ou menos exaustivo. Sobretudo se se trata de um grande fabricante, por muito que os custos de um produto por acaso mal sucedido se possam diluir nos resultados globais.
Um fabricante de menor dimensão, quase artesanal, com uma menor estrutura de custos, uma maior atenção aos pormenores e uma capacidade de inovação mais rápida, poderá mais facilmente dispensar esse exame à opinião dos consumidores.
Por isso, há qualquer coisa de estruturalmente errado quando um grupo empresarial de grandes dimensões que vende livros (que não nasceu do interior mas que foi formado do exterior e onde não prevalece a opinião dos conhecedores mas dos gestores) desconhece por completo as potencialidades dos produtos que tem e as tendências dos consumidores que os podem comprar, optando por navegar à vista e apenas com base no que vai vendendo mais ou menos ao sabor das modas.
 

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Porque não gosto dos CTT (44): a falta de respeito pelo público nota-se em tudo


Rua de São João da Mata, em Lisboa, às 15h27 de hoje, dia 12 de Fevereiro de 2013.
O estacionamento está reservado ao veículo de matrícula 77-15-NQ de um deficiente físico. A viatura da empresa CTT tem a matrícula 51-LV-07 e "é conduzida por um profissional".
Não se sabe que profissional seja, até porque o pessoal da empresa CTT esteve hoje a descansar do muito que trabalha...

Porque não gosto dos CTT (43): o problema, que não o devia ser, dos marcos de correio


O meu leitor fiodeprumo entendeu provocar-me com dois comentários (em 10 de Dezembro e ontem) sobre o que aqui escrevi a propósito da retirada de marcos de correio e que aqui publico sem lhes alterar uma vírgula:
"Para que serve um marco de correio, ou uma caixa de colectora de correio, se ninguém a usa (ou poucas cartas recebe por ano)? Dá despesa na manutenção, está sujeita a vandalismos de colagens de cartazes de publicidade ou de plantão para "grafities".Você... vc, há quanto tempo não escreve uma carta. Quantas cartas colocou vc, em alguma caixa de correio das que viu na rua? Não sendo excepção... se calhar nem uma...Quem as paga?" e "Já agora e porque já sabe o motivo pq os correios estão a retirar marcos e caixas inúteis, diga aqui qualquer coisinha sobre o assunto, ou também é daqueles que... nos marcos?"
Estes comentários são abosolutamente exemplares em matéria de "serviço público" e do travesti em que este conceito se transformou.
A empresa CTT, monopolista num sector rentável, capaz de desperdiçar dinheiro sem prestar contas a ninguém em coisas tão inúteis (como os famosos postos de internet nas estações que foram inaugurados com pompa e circunstância por Guterres e Mariano Gago e essa monstruosa inutilidade que é a ViaCTT), chora baba e ranho a propósito dos marcos de correio e não é capaz de encontrar uma solução a não ser retirá-los.
A população e os seus interesses, na realidade, são-lhe coisas totalmente alheias.

Porque não gosto dos CTT (42): ainda o "serviço público" que não serve o público


O meu assíduo leitor que se assina fiodeprumo decidiu provocar-me, enviando-me este comentário:
"Os Correios vão estar fechados amanhã. Não vale a pena passar por lá. Escreva, escreva a dizer qualquer coisinha contra. Passe bem e não se arrelie pq faz muito mal ao seu coração."
Correspondo ao seu pedido com muito gosto. O que tenho a dizer já o dissee não mudo de opinião. E repito-o.
A empresa CTT é uma empresa sustentada pelo Estado que presta o que é considerado "serviço público", rótulo que acaba por servir para tudo e para mais um par de botas.
Não trabalhar quando o Governo não dá "tolerância de ponto" confirma que, para esta empresa e para os muitos fiodeprumo que nela proliferam (que devem passar mais tempo mascarados de virgens ofendidas do que a trabalhar), a noção de "serviço público" é uma treta e a mera noção de "serviço" é uma espécie de extraterrestre. Ou de um porco com asas, já agora.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O blogue Menina dos Policiais gostou de "Vermelho da Cor do Sangue"


A opinião do blogue Menina dos Policiais sobre "Vermelho da Cor do Sangue" (o segundo "Não Matarás"), que publico na íntegra:
 
Depois de ter lido "A Cidade do Medo", no ano passado (caramba, como o tempo passa!) e ter sido um livro que adorei, "Vermelho da Cor do Sangue", protagonizado por Joel Franco, inquestionavelmente era uma obra a ler embora deva confessar que estava com algumas reservas em iniciar a leitura da mesma.
Passo a explicar: embora com um título apelativo, o símbolo do comunismo, aliado à sinopse, eram factores suficientes para que adiasse esta leitura. Não sou fã de enredos que tenham como fundo ideologias políticas. O que me apraz dizer agora é que os meus receios eram infundados.
Apesar deste ser o segundo livro protagonizado por Joel Franco, a trama é completamente independente de "A Cidade do Medo", não sendo mencionado qualquer elemento relativo ao livro antecessor. Apenas em comum são as personagens principais. O autor contextualiza os leitores não familiarizados com as personagens, incluindo no inicio do livro, uma pequena lista onde figuram os intervenientes da história, sintetizando o seu papel na trama.
Ainda sobre as personagens, um aspecto que denotei deveras curioso foi a participação de personagens concebidas pelo autor ainda antes do aparecimento desta colecção Não Matarás. Falo mais concretamente de Ulianov, cabeça de cartaz do livro "
Ulianov e o Diabo", obra esta que infelizmente ainda não tive oportunidade de ler. Fiquei, de facto, muito curiosa com a leitura dos primeiros livros do autor!
Joel Franco, volta com um caso altamente misterioso. Se há algo que gostaria de ver tratado é a investigação da morte de Augusto, amigo de infância de Joel e que deixou marcas profundas. Pois ainda vou ter que aguardar, uma vez que "Vermelho da Cor do Sangue" não revela pitada desse enigma que se começou a desenhar no livro antecessor.
Denotei que nesta trama, a componente pessoal de Joel Franco está reduzida ao máximo, concentrando-se nos acontecimentos de índole do thriller.
Constatei que a estrutura está bastante semelhante à de "A Cidade do Medo", capítulos curtos, formatados sob a sequência de acontecimentos em cada dia da semana, fomentando uma rápida e empolgante leitura.
Não só a curiosidade natural aliada ao mistério relevante deste caso, como a sobriedade da expressão de temas como o PREC e a sociedade portuguesa nos anos 70, que se constataram ser extremamente didácticas no decorrer desta leitura.
O autor disserta sobre a livre circulação de pessoas estrangeiras e bens, sem imposição de fronteiras, fomentando a facilidade de difusão de núcleos mafiosos. Tema este, que confesso, não aprecio quando tratado em literatura mas a abordagem de Pedro Garcia Rosado tornou-o muito interessante e nada maçudo.
Além disso, o autor volta a recorrer à carismática personagem Eunice Neves, que como me expressei no livro "A Cidade do Medo", volta a ser notório o paralelismo ficção/realidade no que concerne ao tornar as notícias de foro criminal em quase notícias sensacionalistas, por parte da imprensa portuguesa.
Em suma, embora tenha gostado deste "Vermelho da Cor do Sangue", devo confessar que apreciei mais "A Cidade do Medo", apenas por uma questão de subjectividade de gostos literários, que vós sabeis, está mais em conformidade com as investidas de um serial killer, do que propriamente métodos de actuação de máfias russas.
Ainda assim, a avaliar pelo segundo volume da colecção Não Matarás, esta promete abordar temas variados, constituindo thrillers diferentes e independentes entre si, que farão as delícias dos amantes do género. Recomendo!


 

Os "agricultores" de Marco António ou Shakespeare em versão Fox

Na peça "Julius Caesar", de Shakespeare, Marco António pede a atenção dos seus amigos, de todos os romanos e dos seus compatriotas ("Friends, Romans, countrymen...") para fazer o elogio envenenado dos assassinos de César.
No episódio de ontem da interessante série televisiva "Copper", na Fox, e numa passagem de uma encenação da mesma peça, as legendas punham Marco António a pedir a atenção dos amigos, dos romanos e dos "agricultores".
É de imaginar que se o monólogo fosse reproduzido por inteiro ("Friends, Romans, countrymen, lend me your ears..."), a tradução continuaria com "emprestem-me as vossas orelhas"...

A função pública trabalha pouco? (2)

 

Há um sem-número de responsabilidades que o cidadão tem perante o Estado que o obrigam a frequentar os vários serviços estatais.
A situação está relativamente mais aliviada em alguns domínios, graças às novas tecnologias, mas acabamos todos por ir às "repartições públicas" mais tarde ou mais cedo. Ou, em alguns casos, a uma Loja do Cidadão, variante curiosa desse tipo de serviços que nasceu segundo o princípio tradicional do "não se resolve, cria-se outro e mantém-se o original".
A coisa tem um custo pesado: não vale a pena pensar em mais nada a não ser que a resolução de um problema que às vezes é muito simples pode levar-nos uma manhã ou uma tarde inteiras.
Não se trabalha, não se descansa, não se faz mais nada a não ser... ir para a fila de espera da "repartição pública".
Na maior parte dos casos, os serviços abrem às nove ou às nove e meia, fecham à hora do almoço e depois às quatro da tarde.
Pode acontecer, e acontecerá decerto, que o seu pessoal fique a trabalhar até mais tarde. Mas o contraste com o que se passa do lado de cá é enorme: a hora da entrada é em muitos sectores antes das nove, à hora do almoço também se atendem os clientes e o fecho não é às quatro horas.
Esta situação separou os trabalhadores do sector público dos trabalhadores do sector privado. Gerou, com e sem fundamento, a noção de que na função pública pouco se trabalha. E que, trabalhando pouco, tem o lugar garantido para sempre, independentemente do desempenho e dos resultados.
Os sindicatos, sempre excitados com a bandeira dos "direitos adquiridos", foram incapazes, também aqui, de perceber que os tempos estavam a mudar. E deixaram que se instalasse a imagem de uma função pública pouco dada aos interesses do público e sem vontade de trabalhar.
Hoje já é tarde para contrariar essa impressão e para pedir a solidariedade dos trabalhadores do sector privado, que também nunca tiveram a solidariedade dos trabalhadores da função pública.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

A função pública trabalha pouco? (1)

Os professores e os seus sindicatos cometeram dois erros tremendos, em momentos diferentes, que os penalizarão para sempre.
Por iniciativa da então secretária de Estado Ana Benavente, o XIII Governo decretou a existência de períodos de "pausas lectivas", de dois ou três dias, fora dos períodos habituais do Natal, do Carnaval e da Páscoa.
A medida era bondosa: essas interrupções permitiam aos professores e aos alunos respirar fundo, simbolicamente, em períodos por vezes mais longos e mais penosos. Não prejudicavam ninguém... a não ser as famílias que, convictamente ou porque dava jeito, transferiam, como ainda hoje o fazem, quase todas as suas responsabilidades em matéria de educação e de formação dos filhos.
Um título e uma fotografia de primeira página do "Diário de Notícias" estragou tudo: uma escola fechada e toda a gente ausente - e agora, o que é que se faz aos miúdos? Num tempo em que o que conta é a imagem, os professores permitiram que a leitura predominante fosse a da sua ausência. As "pausas lectivas" acabaram antes de se poder avaliar os seus efeitos positivos e negativos no âmbito da comunidade escolar.
Em 2005, o par Maria de Lurdes Rodrigues/J. Sócrates decretou que os professores tinham de passar todo o seu tempo de trabalho nas escolas.
Os professores e os sindicatos contestaram, protestaram vagamente, depois atamancaram-se e, finalmente, como o material tem sempre razão e não cabiam todos nas escolas, a coisa acabou por ser aliviada.
Qualquer trabalhador, tanto no sector público como no sector privado, terá, em princípio, um posto físico de trabalho: uma mesa, uma cadeira, com sorte ou por via das necessidades um telefone e um computador. Os professores não. Nem nunca, organizadamente, o exigiram. O seu tempo de trabalho - e, sim, eu sei, há trabalho que é normalmente feito em casa pelos professores - é passado na escola (o local de trabalho) e fora dela.
Há uma componente de aulas que é obrigatoriamente passada nas escolas mas a outra (a "não lectiva") não é. É utilizada para a preparação de aulas e para a correcção de testes. E, nessas circunstâncias, não o fazem na escola. Não estão à vista.
É certo que, muito informalmente e sobretudo desde a criação dos "corpos especiais" da função público, houve sempre um entendimento tácito de que a remuneração dos professores, não sendo mais elevada (o seu peso nas despesas do Estado é fenomenal), podia ser compensada por uma maior maleabilidade quanto às suas ausências das escolas.
Mas, neste tempo em que o que conta é a imagem, os professores permitiram também com isto que a leitura predominante fosse a da sua ausência. E os sindicatos, que em teoria deveriam ter uma perspectiva mais abrangente das coisas, nunca se preocuparam com isso.
A população com filhos em idade escolar, que em grande medida desistiu de educar os mais novos, considera que os professores trabalham pouco. Os professores não foram capazes de demonstrar o contrário. E talvez já seja tarde para o fazerem.

EDP - A Crónica das Trevas (46)

Mais um apagão, às 14h50. Que serviço de merda que a EDP presta! Arre, que é demais!

EDP - A Crónica das Trevas (45)

Apagão às 13h45. Porquê?

sábado, 9 de fevereiro de 2013

EDP - A Crónica das Trevas (44): o PCP atira ao lado...

Escrevi que o PCP reparou nos apagões da EDP mas depois, como já é de esperar, fez tiro ao alvo errado. A EDP e o camarada Mexia agradecem, com certeza.
Segundo a "Gazeta das Caldas" (notícia desenvolvida sem link: "PCP critica EDP pela demora na resposta ao temporal"), explica o dirigente comunista Vítor Fernandes: "A tempestade pôs a nu alguns problemas estruturais do distrito de Leiria, que tenderão a agravar-se caso as politicas do actual governo possigam a ofensiva contra os trabalhadores, o poder local, o povo e o País".
Ou seja, não há incompetência nem desinvestimento nem falta de manutenção da rede eléctrica.
E se fossem brincar aos políticos para a Coreia da Norte?!

Porque não gosto dos CTT (41)

Durante duas semaninhas, numa coincidência estranha com as minhas críticas, a correspondência chegou-me com alguma regularidade mas esta semana voltámos ao mesmo.

Foi assim:
- No dia 31 de Janeiro saiu de Lisboa correspondência de um banco.
- No mesmo dia saiu da Maia correspondência de uma empresa.
- No dia 4 de Fevereiro saiu de Alfragide correspondência de uma editora.
 
E com este resultado:
- Na segunda e na terça-feira desta semana, dias 4 e 5, não me chegou nada à caixa do correio.
- Na quarta-feira, chegou-me um jornal regional e a correspondência bancária.
- Na quinta-feira a caixa do correio ficou vazia.
- Na sexta-feira, chegou-me o outro jornal regional... e a correspondência da Maia e de Alfragide.
 
A conclusão que não posso deixar de tirar:
- Os serviços locais dos CTT, talvez por causa das muitas críticas (e talvez por perceberem que estavam a pôr em causa a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa...), começaram a dar prioridade, a certa altura, à imprensa local.
- Não há distribuição de correio todos os dias.
- A correspondência vai, e sem pressas, porque os jornais têm de ir.
- Apesar de já estar no "sistema" (ou na confusão?...), a correspondência destinada a esta morada ficou à espera... de vez.
 
A isto chama-se "serviço público" e há quem goste. Eu detesto.

A abordagem ingénua do fecho das salas de cinema

Os vereadores do PS da distante Ponta Delgada encheram-se de brios para declarar, sobre o encerramento, ou receio de, de quatro salas de cinema no concelho: "Não se pode aceitar passivamente o eventual fim de uma oferta cultural tão importante num concelho com 67 mil pessoas".
É difícil ser-se mais óbvio do que isto na ingenuidade com que tantas vezes de aborda o fecho de salas de cinema no nosso país.
Os vereadores do PS, que misturam o conceito de "oferta cultural" ("oferta"!...) com o simples facto de o cinema ser um negócio em Portugal (e uma indústria nos EUA, por exemplo), querem as salas abertas para verem o quê?
As comédias idiotas para adolescentes que fazem o enlevo da PT que ficou com a Lusomundo e que afastam outros públicos? O cinema de "arte e ensaio" que inebria os críticos do "Expresso"? Ou os "blockbusters" que os seus filhos, enteados e sobrinhos, e se calhar eles próprios, vão buscar à internet?

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

"Marcelo Rebelo de Sousa", de Vítor Matos


"Marcelo Rebelo de Sousa", de Vítor Matos (Esfera dos Livros) é um livro interessante.
Biografar personalidades vivas é sempre um problema pelas dificuldades que isso pode impor ao que o autor da biografia pode querer contar mas, neste caso, o biografado terá colaborado sem querer intervir.
O resultado, aqui e ali menos confortável para Marcelo Rebelo de Sousa, é no entanto muito positivo e a história da sua vida animada acompanha bem a retrospectiva política do seu tempo. Encarada como uma forma de ajudar Marcelo Rebelo de Sousa a posicionar-se para uma aguardada candidatura presidencial, como já tem acontecido com outros, esta obra (por mérito do biografado e do biógrafo) vai mais longe do que isso e torna-se uma leitura aliciante. E, de facto, acabamos por conhecer um pouco melhor o "professor Marcelo". Com ela, qualquer leitor ficará por isso habilitado a fazer todas as especulações que quiser sobre o futuro político de Marcelo Rebelo de Sousa.
Trabalho cuidado, "Marcelo Rebelo de Sousa" tem pelo menos duas "gralhas" que teriam sido evitáveis: o poeta português Francisco Manuel do Nascimento (1734-1819) teve como "nom de plume" Filinto Elísio e não Filipe Elísio e a Urgeiriça não fica nos arredores de Viseu mas a 30 quilómetros desta cidade.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Limitação de mandatos: talvez seja mais uma questão de ética do que de leis


Parece não oferecer dúvidas que haja uma limitação do número de mandatos nas autarquias locais, à semelhança da limitação que existe para os mandatos do Presidente da República.
A lei é bondosa mas parece incompleta: qualquer presidente de câmara ou de junta de freguesia pode cumprir três mandatos num lado e ir depois à aventura (eleitoral) para outro. A lei não o impede. E poderia fazê-lo?
Quando o regime político assenta no primado dos direitos e das liberdades, a limitação dos direitos é aplicada sempre como uma pena e em função de uma coisa que não devia ter sido feito e que merece sanção social e penal. Impedir um qualquer presidente de câmara ou de junta de ir tentar a sorte noutro concelho ou noutra freguesia só porque três mandatos (e por força do voto popular) seria uma limitação dos direitos dessa pessoa.
Este é um caso onde se deveria aplicar a ética e, em matéria de normativos, ir à raiz do problema.
Por um lado, seria de bom tom que uma pessoa nessas condições observasse um período de afastamento eleitoral, até para não dar a impressão de que o que pretende é arranjar um lugar de presidente custe o que custar.
Por outro lado, talvez fosse preferível estabelecer que só os efectivamente recenseados e/ou residentes num concelho e/ou numa freguesia se podem candidatar aos órgãos autárquicos desse concelho ou freguesia.
Não sei se Fernando Seara, o presidente de Sintra que quer ser presidente de Lisboa, tem casa em Lisboa.
Não sei se Moita Flores, que foi presidente de Santarám (e que até pode ter estado lá recenseado) e quer ser presidente de Oeiras, está recenseado em Oeiras.
Mas sei que Fernando Costa, o presidente cessante de Caldas da Rainha, reside nas Caldas da Rainha e vai ser candidato à câmara de Loures.
São três exemplos absurdos onde, salvo melhor opinião e esclarecimento, não consigo vislumbrar um módico de ética e que a lei, lá está, parece permitir, porque Seara, Flores e Costa não têm os seus direitos políticos suspensos ou limitados. 

Falta de educação

Faz-me uma certa confusão ver miúdos (e às vezes graúdos...) de adequada formação académica, capazes de compreenderem o valor jurídico do insulto e oriundos de bom ambiente e cultura familiares, confundirem tão facilmente a discordância e a crítica com a necessidade de se derramarem em alarvidades e imbecilidades, julgando-se talvez nas casas de banho que frequentam quando andam de passeio pelas "redes sociais". 

O café ao balcão e a facturação obrigatória

 
Parece-me que é assim: o dinheiro que paga os cafés ao balcão vai num gesto de grande descontracção para um sítio e o dinheiro de despesas superiores e que geram factura vai para a caixa registadora. É simples, portanto... 

O desconhecido

 
Não sei quem é - e, francamente, não sei se gostaria de saber - a criatura que ocupa duas páginas corridas do "Jornal das Caldas" desta semana. Não sei o que fez de relevante na vida, embora saiba qual é o cargo (público, será?) que ocupa e que sempre tenho visto a defender como se fosse coisa sua. No que, aliás, não difere dos presidentes das juntas de freguesia que andaram furiosamente a defender os cargos para que foram em má hora eleitos como se fossem os seus empregos.
Como não sei quem é e não vislumbro no que diz uma grande relação com a realidade, não percebo o destaque que lhe dão. 
Andará a pôr-se em bicos dos pés para chegar a uma posição mais elevada? Há quem lhe deva favores e lhe pague desta maneira? Ou tem uma influência tão grande que desvie um jornal dos assuntos que realmente interessam à população para lhe dar um palco imerecido?
Mistérios...

"Morte com Vista para o Mar"


Em breve, seguido por "Morte na Arena".

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

EDP - A Crónica das Trevas (43): ao menos, o PCP reparou

Os jornais, os políticos e os partidos estiveram-se completamente nas tintas para o problema dos "apagões" nas freguesias do interior.
O PCP foi uma execepção e dois dos seus dirigentes, José Carlos Faria e Vítor Fernandes pronunciaram-se contra a negligência da EDP, que concorreu directamente com os temporais que afectaram o concelho. O "Jornal das Caldas (sem link) dá-lhes espaço na edição desta semana. Já não era sem tempo!...

domingo, 3 de fevereiro de 2013

As tais 49 salas de cinema a menos e o resto da realidade

É muito correcto lamentar o fecho das 49 salas de cinema da empresa que já foi a poderosa Filmes Castello Lopes. Aliás, é de lamentar o fecho de qualquer sala de cinema.
Mas é também de lamentar que ninguém escreva uma linha que seja sobre:
(a) a pirataria do cinema na internet;
(b) o desmazelo da exibição cinematográfica ao longo dos últimos vinte anos;
(c) a degradação das salas de cinema, que muitas vezes já não conseguem competir em qualidade e conforto com o "home cinema";
(d) a feira de vaidades e de tolices em que a crítica de cinema se transformou em Portugal;
(e) o modo como as próprias empresas de distribuição e exibição contribuíram para liquidar os videoclubes em vez de fazerem deles seus aliados na reconquista do público;
(e) a sistemática depreciação do cinema que é a apresentação de filmes para encher pelos canais generalistas de televisão e a oferta ao desbarato de filmes pela imprensa escrita;
e em especial
(f) o modo como a Portugal Telecom conseguiu absorver, diluir e depois destruir o grupo Lusomundo, aproveitando apenas uma etiqueta que foi, na prática, um selo de qualidade ao longo de dezenas de anos.

EDP - A Crónica das Trevas (42): mais um apagão

Por volta da uma hora, esta madrugada.
Numa noite sem vento, sem chuva, com pouca humidade, praticamente sem nuvens. Não há nada que explique isto... até porque a EDP só tem explicações a dar quando o vento ou a chuva são um pouco mais fortes.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Remendos, rupturas, água contaminada e obras só quando o consumidor reclama - o belo retrato dos Serviços Municipalizados das Caldas da Rainha



Os 1100 metros asfaltados da rua onde moro, que tem mais 500 metros de terra batida, na povoação do Cabeço da Vela, na Serra do Bouro (Caldas da Rainha) ficaram desde a passada segunda-feira com 25 remendos, depois de mais uma ruptura na canalização subterrânea. Como tem acontecido, a água que me saiu das torneiras nessa altura era turva.
Ou seja, houve transferência (contaminação) de elementos do subsolo para a rede de abastecimento de água.
Infelizmente, os Serviços Municipalizados de Caldas da Rainha fazem por ignorar este problema de saúde pública.
Em 30 de Agosto dirigi ao presidente do conselho de administração dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) de Caldas da Rainha cinco perguntas:
 
1 - Do muito que pagamos a V. Exa., qual é a parte que serve para investir nas infraestruturas de abastecimento de água? Qual é esse valor?
2 - Em termos concretos, ainda: porque é que a canalização pública da Rua Vasco da Gama, no Cabeço da Vela, não é objecto de manutenção e de reparação/substituição organizada?
3 - O dinheiro que os SMAS cobram não chega para o efeito?
4 - Está V. Exa. em condições de garantir a salubridade da água que corre por esta canalização apodrecida até à nossa casa– até à casa dos moradores nesta rua desta freguesia – numa situação destas?
5 - Serão os seus SMAS capazes, sem receio de serem desmentidos empiricamente ou cientificamente, e arrostando com todas as consequências daí decorrentes, de garantir a salubridade da água que os seus clientes consomem?
 
Por nunca ter tido resposta, apesar de diversas insistências, apresentei ao Provedor de Justiça uma reclamação contra os SMAS em 3 de Dezembro.
A resposta, embora só parcial, dos SMAS lá apareceu há duas semanas: a rede de distribuição de água na Serra do Bouro vai ser objecto de renovação e ampliação (conforme carta em anexo) depois de ter sido aberto concurso público…em 31 de Outubro. (Fico a pensar se os SMAS tomariam esta iniciativa caso eu não tivesse reclamado…)
Só que, nesta resposta, os SMAS ignoraram por completo a questão fundamental da salubridade da água que comercializam.
Ou seja, mais claramente: os Serviços Municipalizados de Caldas da Rainha recusam-se a garantir se a água que circula pela canalização subterrânea já muito apodrecida pode ser bebida.
O que só pode conduzir a uma conclusão: a água comercializada pelos Serviços Municipalizados de Caldas da Rainha está contaminada e é imprópria para ser bebida.
A "Gazeta das Caldas" publicou uma carta minha sobre o assunto, na edição desta semana. O jornal convidou a Câmara Municipal a pronunciar-se. Mas a Câmara, significativamente, ficou calada.
Já escrevi sobre o serviço miserável de abastecimento de água nas Caldas da Rainha aqui.