Os professores e os seus sindicatos cometeram dois erros tremendos, em momentos diferentes, que os penalizarão para sempre.
Por iniciativa da então secretária de Estado Ana Benavente, o XIII Governo decretou a existência de períodos de "pausas lectivas", de dois ou três dias, fora dos períodos habituais do Natal, do Carnaval e da Páscoa.
A medida era bondosa: essas interrupções permitiam aos professores e aos alunos respirar fundo, simbolicamente, em períodos por vezes mais longos e mais penosos. Não prejudicavam ninguém... a não ser as famílias que, convictamente ou porque dava jeito, transferiam, como ainda hoje o fazem, quase todas as suas responsabilidades em matéria de educação e de formação dos filhos.
Um título e uma fotografia de primeira página do "Diário de Notícias" estragou tudo: uma escola fechada e toda a gente ausente - e agora, o que é que se faz aos miúdos? Num tempo em que o que conta é a imagem, os professores permitiram que a leitura predominante fosse a da sua ausência. As "pausas lectivas" acabaram antes de se poder avaliar os seus efeitos positivos e negativos no âmbito da comunidade escolar.
Em 2005, o par Maria de Lurdes Rodrigues/J. Sócrates decretou que os professores tinham de passar todo o seu tempo de trabalho nas escolas.
Os professores e os sindicatos contestaram, protestaram vagamente, depois atamancaram-se e, finalmente, como o material tem sempre razão e não cabiam todos nas escolas, a coisa acabou por ser aliviada.
Qualquer trabalhador, tanto no sector público como no sector privado, terá, em princípio, um posto físico de trabalho: uma mesa, uma cadeira, com sorte ou por via das necessidades um telefone e um computador. Os professores não. Nem nunca, organizadamente, o exigiram. O seu tempo de trabalho - e, sim, eu sei, há trabalho que é normalmente feito em casa pelos professores - é passado na escola (o local de trabalho) e fora dela.
Há uma componente de aulas que é obrigatoriamente passada nas escolas mas a outra (a "não lectiva") não é. É utilizada para a preparação de aulas e para a correcção de testes. E, nessas circunstâncias, não o fazem na escola. Não estão à vista.
É certo que, muito informalmente e sobretudo desde a criação dos "corpos especiais" da função público, houve sempre um entendimento tácito de que a remuneração dos professores, não sendo mais elevada (o seu peso nas despesas do Estado é fenomenal), podia ser compensada por uma maior maleabilidade quanto às suas ausências das escolas.
Mas, neste tempo em que o que conta é a imagem, os professores permitiram também com isto que a leitura predominante fosse a da sua ausência. E os sindicatos, que em teoria deveriam ter uma perspectiva mais abrangente das coisas, nunca se preocuparam com isso.
A população com filhos em idade escolar, que em grande medida desistiu de educar os mais novos, considera que os professores trabalham pouco. Os professores não foram capazes de demonstrar o contrário. E talvez já seja tarde para o fazerem.