O que é que evoca Caldas da Rainha a quem só conhece a cidade e não o concelho ou nem isso? Louça, claro, Bordallo Pinheiro eventualmente, talvez as termas.
Há uma cidade, claro. Talvez surja associada à Lagoa de Óbidos e à praia da Foz do Arelho. Mas é só isso.
No entanto, o concelho de Caldas da Rainha é grande, com zonas rurais férteis e pequenas produções agrícolas. E tem uma frente de mar.
Desde a baía de São Martinho do Porto (que já pertenceu a Caldas da Rainha e que é agora a única ligação à costa atlântica do concelho interior que é Alcobaça) até à Lagoa de Óbidos, a fronteira ocidental de Caldas da Rainha é o mar. Tem duas praias, Foz do Arelho e Salir do Porto, e doze quilómetros de costa com uma estrada litoral que permite ver, praticamente, da Nazaré a Peniche, incluindo as Berlengas.
A frente de mar - e de sol e de vista para o Atlântico, através de campos, socalcos e caminhos escarpados - é um dos elementos mais valiosos do património de potencial interesse turístico de Caldas da Rainha mas as elites urbanas (em certos casos de um provincianismo aterrador) ignoram a costa. Daí que Caldas da Rainha não suscite essa identificação imediata com o Atlântico.
Não tem sido permitido construir, pelo menos até agora, nos campos e das falésias que dão directamente para o mar e o enigmático empreendimento turístico que já esteve anunciado para o concelho fica numa zona mais recatada (e que inspirou a história de "Morte com Vista para o Mar", com vista longínqua para o mar e para a Lagoa de Óbidos, por sinal em terras florestais. Mas o princípio é o mesmo: há gente que, no concelho, quer colher rapidamente os proveitos do investimento externo no potencial turístico por mais estranho que ele possa ser.
O mar está também presente em "Morte com Vista para o Mar" através da casa onde se exilou o seu protagonista, Gabriel Ponte (e onde há algumas mortes no desfecho).
Desse ponto, onde há realmente algumas casas com uma vista invejável, vê-se a entrada de mar da Lagoa de Óbidos e da Foz do Arelho que se confunde com o azul, ou o cinzento, do céu e o Gronho, o rochedo da margem sul (no concelho de Óbidos) que parece ainda mais ameaçador nos dias escuros de mau tempo.
O Oceano Atlântico e o Gronho, na margem sul da Lagoa de Obidos, vistos do alto da zona da Foz do Arelho |
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