"The Shining" é um dos primeiros romances do prolífico Stephen King. Publicado em 1977, faz parte do seu período inicial (mais virulento, mais criativo, mais directo). É uma boa história de fantasmas e de um local assombrado por coisas muito sinistras.
Stanley Kubrick levou-a ao cinema, com o mesmo título, em 1980 mas o filme, impecável, afastava-se da história original.
Uma mini-série, em 1997, andou mais próximo do romance mas nunca poderia ter deixado de ser, ela própria, assombrada pelas qualidades de qualquer produção de Kubrick.
"The Shining" teve sempre um sobrevivente que é fundamental: o pequeno Dan Torrance, que é o herói da história. E é por aí que começa Stephen King para escrever o que é uma continuação do seu romance: "Doctor Sleep" (2013).
Nele Dan Torrance, com um percurso de vida bastante complexo, é adulto, a "luz" ou "brilho" (o que é descrito como "shining") é um fardo e a relação com o mundo só é satisfatória no acompanhamento de doentes terminais, que ajuda a morrer. Mas há mais gente que tem esse dom, como a jovem Abra Stone, que entra mentalmente em contacto com uma seita religiosa denominada True Knot. São vampiros (a fazerem lembrar os do extraordinário filme "Near Dark", de Kathryn Bigelow) mas de uma espécie diferente: o que os alimenta é o "vapor" (a alma?!) dos seres humanos, que são para eles uma subespécie.
E temos assim Dan Torrance, Abra e alguns aliados de ocasião a combaterem a seita, numa história marcada pelo habitual brilhantismo narrativo de King mas, depois, insatisfatória.
A violência subjacente resolve-se em tom brando, o horror atenua-se, a emoção transfere-se para domínios mais espirituais e... não há uma gota de sangue derramado. Não seria obrigatório mas ajudaria a criar um clímax mais adequado ao desenvolvimento da história.
É como se "Doctor Sleep" tivesse sido escrito a pensar em qualquer versão audiovisual (cinema ou TV), adaptável sem alterações de fundo a uma classificação etária mais próxima do "PG-13" (genericamente desadequado para pré-adolescentes) do que do "R" (a classificação do "The Shining" de Kubrick, que obriga os menores de 17 anos ao acompanhamento por adultos) no padrão americano, longe, muito longe dos seus melhores títulos do género como "Cujo", "Firestarter", "The Stand" ou "Pet Sematary".