Mark Rylance como Thomas Crowell em "Wolf Hall" |
A história das seis mulheres de Henrique VIII, de Inglaterra, ultrapassa em muito a curiosidade histórica devido à intriga política, à violência de Estado e à ruptura inglesa com a Igreja Católica de Roma que caracterizaram as tentativas do rei inglês de sucessivamente se ir livrando das mulheres que não lhe davam o filho que ambicionava.
É um conjunto de temas inspiradores que é sempre estimulante e que deu origem, entre 2010 e 2013, a dois romances da inglesa Hilary Mantel, "Wolf Hall" e "Bring Up the Bodies" (os dois estão publicados em português, tendo o segundo ganho o título de "O Livro Negro"), que cobrem o período em que Henrique VIII se prepara se livrar da primeira mulher (Catarina de Aragão), se casa pela segunda vez (com Ana Bolena) e, enquanto também se vai livrando dela, se aproxima da terceira (Jane Seymour).
Haverá, parece, um terceiro romance e pode dizer-se, naturalmente, que não falta material a Hilary Mantel.
"Wolf Hall" e "Bring Up the Bodies" (que não li) foram entretanto transformados numa mini-série de seis episódios ("Wolf Hall") pela BBC.
Thomas Cromwell, que se transforma no braço-direito de Henrique VIII, é a personagem central da versão de Hilary Mantel e impressiona a sua caracterização pelo actor Mark Rylance nesta série.
Cromwell é o exemplo do grande manipulador dentro do poder instituído, de aspecto quase sinistro mas movido por uma tristeza interior de conturbadas raízes familiares. Henrique VIII reaparece numa interpretação surpreendente de Damian Lewis (mais conhecido por "Homeland") e a dinâmica entre os dois é, a partir de certa altura, o fio condutor da história. Cromwell é um homem com uma missão, capaz de ser amável e gélido, fiel ao rei mas movido por um objectivo pessoal. E Henrique VIII apoia-se bem nele. A realização é segura, os diálogos são geralmente perfeitos e os ambientes, discretos, estão bem construídos.
As quase seis horas de "Wolf Wall" terminam com a morte de Ana Bolena. Cromwell consolida, nessa altura, o seu poder. Terá depois um papel fundamental na reforma do Estado e da igreja de Inglaterra mas acabará por ser mandado executar pelo temperamental Henrique VIII por motivos diversos e historicamente ainda controversos.
Não se esperando que a série fosse além da sua origem literária (que se resumem quase a Ana Bolena, com Catarina de Aragão e Jane Seymour com escassíssimo tempo de ecrã), fica no entanto a sensação de que a história fica por terminar e é isso que acaba por diminuir a relevância de "Wolf Hall", mesmo que saibamos com maior ou menor pormenor o que aconteceu nesse período (e no que se lhe seguiu, com Isabel I) e que já tenha havido diversas versões no cinema e na televisão.
No fundo, isto também significa que talvez toda a gente gostasse de ver como é que o Cromwell de Mary Rylance e o Henrique VIII de Damian Lewis continuariam a moldar a História de Inglaterra. Mas, infelizmente, nada feito.
[Vi "Wolf Hall" numa edição em DVD da BBC para o Reino Unido de 2015, legitimamente adquirida.]
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