O realizador Michael Mann revelou ao mundo, em 1986, um novo tipo de psicopata assassino: o Dr. Hannibal Lecter, que no seu filme "Manhunter" ("Caçada ao Amanhecer") se chamava Lektor e era interpretado por Brian Cox, visitado na prisão onde se encontrava por Will Graham (William Petersen, acabado de sair do extraordinário "Viver e Morrer em Los Angeles"). Graham procurava apanhar o "serial killer" Francis Dolarhyde e pedia ajuda a Lektor/Lekter.
A história, baseada em "Red Dragon" (o segundo livro do escritor Thomas Harris), repetiu-se em "Red Dragon" ("Dragão Vermelho", 2002), já com Anthony Hopkins como Lecter e sob a direcção de um realizador pouco inspirado, Brett Ratner.
Treze anos depois temos, em televisão, a terceira versão da história e o drama, pode dizer-se, termina aqui, depois de ter começado em 2002 com o esgotamento do filão de Hannibal Lecter.
Desta vez, a história de Francis Dolarhyde aparece ensanduichada numa espécie de segunda metade da série televisiva "Hannibal" (AXN), cuja terceira temporada, em curso, parece ser mesmo a última, talvez inevitavelmente.
"Hannibal", a série, começou titubeante, teve uma muito boa segunda temporada e depois caiu.
Há dois motivos para isso: o facto de se ter transformado num "remake" algo condensado e de o filão de base se ter esgotado. Thomas Harris (que brilhou com "Red Dragon", "O Silêncio dos Inocentes" e "Hannibal", perdeu por completo o pé com "Hannibal Rising", em 2006, que deu origem a um filme desinteressante e que foi a sua última obra) não tem mais nada escrito e a sua personagem Clarice Starling, de "O Silêncio dos Inocentes", não podia ser usada nesta série por questões relacionadas com direitos de autor.
Há dois motivos para isso: o facto de se ter transformado num "remake" algo condensado e de o filão de base se ter esgotado. Thomas Harris (que brilhou com "Red Dragon", "O Silêncio dos Inocentes" e "Hannibal", perdeu por completo o pé com "Hannibal Rising", em 2006, que deu origem a um filme desinteressante e que foi a sua última obra) não tem mais nada escrito e a sua personagem Clarice Starling, de "O Silêncio dos Inocentes", não podia ser usada nesta série por questões relacionadas com direitos de autor.
A terceira temporada da série é um "remake" dos dois "Red Dragon" e de "Hannibal" (cinema, o filme de Ridley Scott, de 2001, que tem toda a história de Mason Verger e dos porcos) e com uma curiosa homenagem ao filme de Ridley Scott: a cena das tripas do polícia italiano que caem no solo florentino é decalcada de Ridley Scott. Homenagem, ou apenas o reconhecimento de que é impossível fazer melhor?
"Hannibal", 2001 |
Sem mais material de origem, sem a possibilidade de utilizar a personagem de Clarisse Starling (Jodie Foster/Julianne Moore), que resta a este "Hannibal" televisivo? Pouco, muito pouco, sob o manto de uma banda sonora que parece ter sido inspirada em Penderecki e enfeitado, como uma árvore de Natal, com efeitos gongóricos que só distraem e perturbam a narrativa.
A segunda temporada de "True Detective" mantém o nível da primeira (de que aqui falei) |
"True Detective" (TV Séries), a segunda temporada, é diferente e ilustra da melhor maneira o preceito de que no "thriller" é mais importante o conteúdo do que a forma.
A segunda temporada desta série (e falta-me ver o último episódio) tem sido quase perfeita.
Há uma ou outra canção como música de fundo que não ficam bem (mas o genérico de abertura ao som fortemente cadenciado de Leonard Cohen é óptimo!) e alguns diálogos são dispensáveis. Mas no resto... está lá tudo: quatro personagens fortíssimas (sobretudo as que são compostas por Vince Vaughn, Colin Farrell e Rachel McAdams) que convergem habilmente no final do primeiro episódio, uma narrativa directa e que não se perde com pormenores secundários, atmosferas asfixiantes e uma cena de tiroteio com uma construção admirável.
Há uma ou outra canção como música de fundo que não ficam bem (mas o genérico de abertura ao som fortemente cadenciado de Leonard Cohen é óptimo!) e alguns diálogos são dispensáveis. Mas no resto... está lá tudo: quatro personagens fortíssimas (sobretudo as que são compostas por Vince Vaughn, Colin Farrell e Rachel McAdams) que convergem habilmente no final do primeiro episódio, uma narrativa directa e que não se perde com pormenores secundários, atmosferas asfixiantes e uma cena de tiroteio com uma construção admirável.
O ambiente e os temas (os polícias e os políticos vendidos ao crime, o criminoso que de repente se viu desapossado de quase tudo o que tinha, as obras públicas de cariz suspeito, as várias dependências) podem ser banais mas o que faz uma boa história policial é a capacidade de os combinar, de os reinventar na narrativa, de jogar com o espectador (ou leitor) um jogo de inteligência. E "True Detective" tem isso tudo.
É o que faz de "True Detective" uma série fascinante por contraste, por exemplo, com a série crescentemente entediante em que "Hannibal" se transfigurou.
Actualização (17.08.15) - O último episódio de "True Detective", com os seus 86 minutos de duração, desequilibra a boa impressão deixada pelo conjunto da série. Consta que Nic Pizzolato, autor dos argumentos, e Cary Fukunaga, produtor e realizador, se desentenderam e o que fica é na realidade a desagradável impressão de que esse episódio, desajustadamente arrastado, não teve os cortes de que precisaria.
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