Olhemos para os nove meses que praticamente já passaram sobre as eleições autárquicas de 2013.
Este acto eleitoral ficou marcado pelo avanço eleitoral de um grande número de listas extrapartidárias, em geral denominadas de "independentes" por os seus membros e apoiantes não terem no momento da eleição ligações directas a partidos.
No concelho de Caldas da Rainha, o Movimento Viver o Concelho (MVC) enquadrou-se nessa definição e o resultado eleitoral que teve (com listas em várias freguesias e candidaturas à Câmara e à Assembleias Municipais) pode ter sido modesto em número de votos mas alterou muito significativamente o "status quo" político nos vários órgãos de poder.
Nos primeiros meses, o MVC fez-se notar e inquietou, directa e indirectamente, não apenas o inimigo principal (o PSD camarário) como os restantes partidos que se têm limitado apenas a "provas de vida" regulares para tentarem ver se ninguém se esquece deles nas eleições seguintes.
Nove meses depois, no entanto, o MVC parece ter sofrido uma erosão que quase o condenou ao silêncio.
As intervenções sobre as situações concretas (o caso do Hospital Termal, as desastradas obras na capital do concelho, o assoreamento da Lagoa de Óbidos) foram escasseando para desaparecerem.
Esta frente interna parece ter sido desfavorecida perante uma tentação (quase partidária...) de criar relações com outros movimentos mais organizados e de procurar parentescos com, por exemplo, os movimentos semelhantes que intervieram nas eleições europeias (o MPT ou o Livre, por exemplo) ou mesmo de ter a tendência para seguir figuras políticas de características messiânicas.
O ocaso no horizonte
Sendo naturalmente legítimos todos os exercícios individuais de cidadania (que deveriam excluir, pelo menos na vida pública, o insulto desbragado aos titulares de órgãos políticos, demasiado frequente no Facebook mesmo por parte de pessoas com profissões públicas), essa tentação afasta os independentes da intervenção na frente interna.
Com isso, condenam-se ao esquecimento e, no limite, no acto eleitoral seguinte, à sua irrelevância ou ao desinteresse dos eleitores que os haviam preferido, ao mesmo tempo que emitem uma mensagem que não era a sua: "nós somos como todos os outros, dos partidos".
É possível que a própria característica intrínseca dos movimentos independentes (o facto de só serem movimentos organizados quando os seus elementos o querem ser) ou a inércia provocada pela decepção de não verem resultados imediatos (não vale a pena fazer nada...) sejam factores desmobilizadores. Mas a política, como exercício da tal cidadania erguida como bandeira pelos independentes, exige paciência, disciplina, meticulosidade e organização e uma delimitação muito clara entre a urgência da intervenção política e o receio de "magoar" os "amigos" do Facebook.
As próximas eleições autárquicas serão, assim, a única medida prática para avaliar da dimensão e da verdadeira relevância dos movimentos independentes e o resultado dessa avaliação já começa a perfilar-se como duvidoso.
As europeias não são sentidas como tendo um objectivo concreto e as legislativas só têm comprovado o conservadorismo do eleitorado (alguém se lembra do PRD e do MDP, ou repara na ilusão dos Verdes do PCP ou na acelerada erosão do BE?).
Não é imprevisível que as eleições autárquicas de 2017, daqui a mais de três anos, reflictam o ocaso dos independentes. E não é cedo, como nunca foi, para lhes dar atenção.
Quem vai perder com o ocaso dos independentes são as populações, porque os independentes até têm a vantagem (pessoal) de não precisarem da política para viverem, o que lhes garantirá um esquecimento abençoado e, anos mais tarde, a possibilidade de se lançarem numa aventura do mesmo género.
Por outro lado, a provável irrelevância dos independentes deixará muitos eleitores a falarem sozinhos e ainda mais afastados da política. A abstenção (um monstro de sete cabeças gerado pelos que na prática a estimulam) começa, continua e reforça-se com esse fracasso.
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As "bombas" da incompetência da "nova dinâmica" do PSD
já não incomodam ninguém? |