Há três anos, na Primavera de 2011, o Plano Director Municipal de Caldas da Rainha foi alterado na Assembleia Municipal para permitir a criação de um empreendimento turístico gigantesco numa zona de paisagem protegida.
O então aprovado Plano de Pormenor da Estrada Atlântica (PPEA) previa a entrega de 275 hectares de terreno a duas empresas investidoras estrangeiras, de perfil enigmático e fundos de origens pouco claras, que gastariam 300 milhões de euros num projecto turístico que estaria a funcionar em 2021.
Nessa altura anunciou-se que seriam criados directamente 380 postos de trabalho e mais 750 indirectamente.
O PPEA abrangia duas freguesias (Serra do Bouro e Foz do Arelho) e os investidores eram representados por um advogado que manteve até ao fim o cargo de presidente da Junta de Freguesia da Serra do Bouro.
Três anos depois nada existe.
Os que na Assembleia Municipal alteraram o Plano Director Municipal ficaram calados.
As Juntas de Freguesia também.
Em circunstâncias normais, os membros dos órgãos autárquicos (do PSD, do CDS, do PS, do PCP e do quase extinto BE) deviam procurar saber o que aconteceu.
Têm essa responsabilidade e devem essa explicação aos eleitores. Aos que residem nas freguesias afectadas, aos que tiveram a expectativa de arranjar um emprego (legal...), ao comércio de Caldas da Rainha que ganharia com as multidões de turistas que viriam para esse complexo.
O silêncio, nestas circunstâncias, é sempre muito comprometedor.
Fica sempre a ideia de que algum motivo houve para ficarem calados. E de que alguma coisa hão de ter ganho como recompensa pelo seu silêncio.
Ou, se quisermos ser benevolentes, de que ficaram envergonhados pela cobertura que deram a uma coisa destas.
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Utilizei este estranho caso para o meu livro "Morte com Vista para o Mar". É um romance, uma obra de ficção onde, no entanto, se podem perceber algumas coisas relacionadas com o PPEA. É significativo que isso também não tenha perturbado os que ficaram calados.
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