O hospital termal de Caldas da Rainha está fechado. É uma instituição que tem um valor histórico significativo e que poderia ter um valor económico importante para o concelho. Há dinheiro para alargar passeios mas para o hospital termal não, e toda a gente parece estar à espera do Pai Natal.
A situação foi abordada recentemente na Assembleia Municipal e a "Gazeta das Caldas" desta semana fornece elementos interessantes para permitir fazer um ponto de situação.
400 mil euros mas só para alargar passeios - A "ressurreição" do hospital custa, pelo menos, 400 mil euros numa perspectiva de alargamento e de melhoria da oferta. A sua tutela cabe, actualmente, ao Estado. Note-se que as obras que decorrem na Avenida 1.º de Maio (que consistiram, principalmente, no alargamento dos passeios e na criação de uma rotunda com um repuxo junto à moribunda estação ferroviária) custam, pelo menos, 400 mil euros. Por mais controversa que possa ser a comparação, é útil ponderar quais os benefícios que se tiram do alargamento de passeios numa avenida por onde pouca gente anda a pé e sem muito comércio e quais os benefícios de um hospital termal capaz de chamar à cidade e à região milhares de visitantes por ano.
Um presidente de câmara municipal tipo director-geral - A posição da Câmara Municipal de Caldas da Rainha e do seu presidente oscila entre o enfado e o desinteresse. A Câmara não quer "património" e, traduzindo por miúdos, não quer investir no que não é seu. A possibilidade de uma concessão por parte do Estado é matéria para umas conversações prolongadas (na lógica do "não é para se fazer mas para se ir fazendo") com a Direcção-Geral do Tesouro e já chega. Um presidente de câmara realmente interessado traria um ministro à capital do concelho e abriria um processo negocial. Mas este, possivelmente, não quer, não consegue, não sabe como se faz ou... não lhe passam cartão. A direcção-geral depende sempre do secretário de Estado, o secretário de Estado depende do ministro. Estar, neste caso, a falar com a Direcção-Geral do Tesouro ou com o porteiro do Ministério das Finanças na Praça do Comércio é perfeitamente igual. O presidente de câmara que nos calhou em desgraça ainda convidou Pedro Santana Lopes, na qualidade de presidente da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, mas este não deu sinais de grande interesse. Facilmente se percebe que qualquer potencial investidor ficará sempre desconfiado quanto ao que se pretende fazer numa cidade esventrada, calamidade que deve ser caso único no país, e recomenda-se à vereação e presidente de Caldas da Rainha que leiam o que escreveu Santana Lopes na passada sexta-feira no "Correio da Manhã".
A desorientação dos partidos - Se, dispondo de meios, a câmara (PSD) não sabe o que há de fazer, os restantes partidos sabem ainda menos e o que se vê são lamentáveis manifestações de impotência, tanto mais vergonhosas quanto o PS, o CDS, o PCP e o BE estiveram, e têm estado, em posição, na câmara e na Assembleia Municipal, de evitar que as coisas chegassem a este ponto. Entre o PS, que quer ir em peregrinação a Bruxelas, e o CDS, que quer mais estudos, é o "venha o Diabo e escolha". Quanto a nós, só poderemos (voltar a) escolher em 2017.
Uma proposta pragmática do MVC - O MVC, o movimento independente que começou a alterar o xadrez político de Caldas da Rainha nas eleições de Setembro de 2013, foi mais pragmático e, pela voz de José Rafael Nascimento, propôs uma "carta de princípios, objectiva e consensual" como base para uma decisão, enquanto Edgar Ximenes, defendendo uma visão mais abrangente de Caldas da Rainha como cidade termal, punha o dedo na ferida: "Pior do que a 'legionella', a contaminação ideológica é que pode estragar tudo". E a contaminação ideológica tem esses sintomas: desorientação absoluta.
Um processo negocial com o Estado (e nunca a nível de direcção-geral...) e com potenciais investidores (num estabelecimento termal e no aproveitamento turístico dos pavilhões), com base numa "carta de princípios" urgente, é a única forma de recuperar muito do que se perdeu e de relançar o hospital termal, "sob pena de, por excessivo protelamento e eventual ruína, nunca mais o poder fazer", como salientou Edgar Ximenes.
A elite caldense, que objectivamente votou ao desprezo o hospital termal (e tudo o que possa trazer visitantes de fora ao concelho e à cidade), está ainda e tempo de seguir este rumo e de fazer o seu acto de contricção.
Pode ser que não o saibam mas não há nenhum Pai Natal que "ressuscite" o hospital termal.