Quem, em Lisboa, entra na A8 só sabe que esta auto-estrada vem dar a Caldas da Rainha alguns quilómetros antes da primeira saída para Caldas da Rainha.
O mesmo, parece-me, acontece no sentido Norte-Sul. É natural. Nada convida a visitar Caldas da Rainha, quer se trate da cidade (que pretende ser o concelho todo) ou do concelho.
Cerâmica, cultura, inovação nas artes, termalismo, museus, gastronomia, golfe, praias, artesanato, paisagens... nada existe (ou, ainda existindo, não é promovido) que possa trazer ao concelho visitantes externos. Visitantes que, em maior ou menor quantidade, deixariam dinheiro nas actividades económicas do concelho - o que ajudaria as empresas locais a crescer e faria diminuir o desemprego.
O que tem actualmente o concelho de Caldas da Rainha que seja capaz de atrair visitantes que, para isso, se desloquem de propósito ao concelho? Nada, á excepção da paisagem, de alguns bons restaurantes (muitos deles nem sequer reconhecidos pelos seus habitantes) e das obras, mal pensadas e pior concretizadas, que devastaram a cidade.
Termas e "spas" mas bem longe
O que poderia ter sido feito não foi e o que havia foi deixado morrer. Em doze anos, pelo menos o tempo do meu contacto mais directo, o concelho definhou, em termos de atracção.
Atendendo apenas ao que está mais perto, percebe-se (pela negativa) o que podia ter sido feito. Óbidos pegou no chocolate e fez um festival, que nada tem a ver com a imagem histórica do concelho. Foi um êxito.
Tal como foi um êxito o Mercado Medieval, que só poderia ser feito num local adequado ou artificialmente preparado para o efeito.
Caldas da Rainha não só não criou algo que valorizasse o concelho e a cidade como deixou morrer o hospital termal.
O que já se soube mostra-o com clareza: a Câmara Municipal diz que não mete um cêntimo na sua ressurreição sem garantias de ter a sua concessão.
As conversas a nível de direcções-gerais (quando estas coisas se tratam a nível de ministro...) não servem para nada e o apregoado interesse da Santa Casa da Misericórdia e de Pedro Santana Lopes parecem-se mais com gestos de diplomacia de quem espera não ficar com a criança nos braços sem ser pai dela.
E isto não deveria surpreender ninguém.
A elite política, que domina a câmara e a Assembleia Municipal e que ocupou os partidos tradicionais, do PSD ao BE, vive acantonada na cidade e parece ter horror a quem vem de fora. E talvez no seu íntimo trema de pânico perante a hipótese de ter uma espécie de leprosos a virem tratar-se no hospital termal. Como não precisa dele e tem dinheiro para outras termas e outros "spas" não lhe dá grande atenção. Nunca deu, não quer ter a maçada.
Aliás, viu-se como a atenção que deu a "causas" como a Linha do Oeste e o desaparecimento de valências do hospital para Torres Vedras.
Vale, politicamente, o tempo de um fósforo.
O ódio aos "estrangeiros"
Há poucos anos, um dos mais reaccionários, incompetentes e desonestos autarcas recorreu ao "quem está mal, muda-se" para atacar quem criticou os óbvios excessos da sua actividade, numa manifestação proto-fascista de ódio aos "estrangeiros".
É um dos melhores exemplo do "orgulhosamente sós" da elite endinheirada, pseudo-culta e dominadora que reina na cidade e que despreza o resto do concelho, cujos habitantes deve considerar camponeses incultos, malcheirosos e de unhas sujas.
De uma ponta à outra do espectro partidário do "status quo", todo ele feito da mesma argamassa social e política, julgam-se os senhores do mundo, tão mundanos na sua capacidade de se pronunciarem sobre tudo o que se passa em todo o mundo de acordo com o que a televisão lhes mostra e incapazes de olharem para a porcaria que fazem na sua própria casa. É por isso que gosta das tasquinhas da Expoeste para, uma vez por ano, se mostrar amiga do povo, considerando que isso é que é a grande mais-valia turística do concelho. Venham cá e enquanto não se livrarem do cheiro a fritos não hão de voltar...
A questão do hospital termal tem de ser vista a esta luz. A elite da cidade não precisa dele para nada. Observará, e até pode incentivar, algumas actividades públicas (o tal episódio caricato do vidro partido...) e fazer de conta que está interessada (e até pode acreditar que está porque convive bem com as suas ilusões) mas abomina a ideia de ele poder voltar a funcionar.
É isto que acontece seis meses depois do anúncio das Termas das Gaeiras, em Óbidos..
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