segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Reflexões sobre a literatura "policial" (6)

O "policial" esgotou-se no cinema por não precisar de efeitos especiais, para lá da representação de mortes variadas e de cenas de acção, como o mostram os grandes filmes do género da fase final do século passado, como "O Padrinho" (1972-1990), "Viver e Morrer em Los Angeles" (1985), "O Silêncio dos Inocentes" (1991), "Heat" e "Os Suspeitos do Costume" (1995).
Neste quadro, a televisão tornou-se o meio audiovisual de excelência onde o "policial" melhor se pôde desenvolver e explorar novos rumos.
"Hill Street Blues" (1981-1987), "The Wire" (2002-2008), "The Killing/Forbrydelsen" (2007) e "Boardwalk Empire" (2010) demonstraram, e demonstram, como o "thriller" beneficia não apenas com mais tempo de narrativa (a multiplicação de episódios entre os 40 e os 60 minutos, em média, em vez dos 90 ou 100 minutos únicos das longas-metragens) mas também com a possibilidade de forçar os limites das fronteiras temáticas.
A prolongada cena de incesto mãe-filho na segunda temporada de "Boardwalk Empire" e o realismo político-social de "The Wire" enfrentariam problemas muito complexos no cinema, pelo menos a nível da classificação etária e da correspondente circulação em termos de público.
O facto de as televisões e os produtores audiovisuais nacionais se manterem gloriosamente alheados desta tendência, explorando "ad nauseam" as telenovelas de intrigas amorosas, só revela o seu desajustamento em termos de ficção contemporânea, a sua falta de ousadia e o "parece mal" que amedrontam o sector livreiro.

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