domingo, 27 de junho de 2021

Os três fracassos de Jorge Varela

 

O ainda presidente da União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro (Caldas da Rainha), Jorge Varela, não se recandidata nas próximas eleições, que deverão realizar-se no próximo mês de Setembro. 

Não o faz, oficialmente, porque foi nomeado subdiretor da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria. Mas, na realidade, não se recandidata devido aos fracassos que acumulou e porque o PSD já não o quer no cargo. Nem, muito menos, na Câmara Municipal. 

Eis a história dos três fracassos que derrotaram na política um homem com ambições.

  

O "embelezamento"

 

Uma "beleza" de rotunda

Quando apareceu como candidato à presidência da União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro (concelho de Caldas da Rainha) nas eleições de há quatro anos, o advogado e professor do ensino politécnico Jorge Varela derramou-se em 2.08.2017 no "Jornal das Caldas" a anunciar o "embelezamento" que cairia sobre a Serra do Bouro quando ele fosse eleito. Possuindo "beleza natural” e “vistas fantásticas (…) sobre o mar”, a Serra do Bouro seria "complementada com um embelezamento de que já é merecedora”.

 (Respondi-lhe, em texto também publicado no mesmo jornal na semana seguinte, que a Serra do Bouro "precisa, sim, como as restantes freguesias rurais, de estradas utilizáveis, de placas toponímicas dignas, de equipamento público mínimo, de limpeza capaz, de sinalização útil, de uma rede de abastecimento de água devidamente funcional e, sobretudo para os seus cidadãos mais idosos, de meios viáveis de acesso à capital do concelho, onde são obrigados a tratar de tudo". Os pormenores podem ser consultados aqui.)

Quatro anos depois, o "embelezamento" de Varela resume-se a uma rotunda mal dimensionada e mal acabada e à instalação de manilhas de esgotos a fazerem de vasos de flores no único miradouro voltado ao mar que tem a Estrada Atlântica. E a tosca rotunda tem um valor simbólico: feita pela empresa Cimalha, mostra bem a incompetência e a incapacidade desta empresa que, no entanto, tem lugar cativo no coração de quem manda na Câmara Municipal de Caldas da Rainha.

Basta andar pela Serra do Bouro para se ver como, em quatro anos, tudo piorou e nem o que já havia foi defendido e melhorado, como aconteceu com a fonte do Cabeço da Vela. O "embelezamento" de Varela foi um fracasso absoluto.


O "deserto" da zona rural e o previsível mau resultado eleitoral

 


A situação piorou numa zona que desapareceu do mapa da União de Freguesias


Em 15 de Outubro de 2017, duas semanas depois das eleições autárquicas, houve um violento incêndio que subiu da Foz do Arelho para a Serra do Bouro pela vegetação que ladeava a Estrada Atlântica. Se o vento forte que impulsionou as chamas estivesse para leste em vez de estar para norte, esta região (além das suas casas e de alguns dos seus habitantes) teria ardido. 

Nem nessa noite nem no dia seguinte se avistou, na Serra do Bouro, o recém-eleito presidente da União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro. Nem o presidente da Câmara Municipal, claro. Saber como estavam as casas e os habitantes e oferecer os préstimos municipais teria sido um gesto bonito, uma expressão de solidariedade. Mas Varela não quis saber da Serra do Bouro.

Esta atitude definiu, para os quatro anos seguintes, o seu mandato. Partindo do vácuo do "embelezamento" e de um "programa eleitoral" concebido para idiotas, o que fez relativamente à Serra do Bouro foi... zero. 

Varela preocupou-se com a freguesia urbana de Santo Onofre (a mais importante da capital do concelho) e desprezou a Serra do Bouro. Algumas iniciativas melancólicas de puro marketing político não tocaram no que era essencial. E foi criticado por isso. Pelos habitantes locais e pelos seus camaradas de partido. 

A situação não iria favorecer o resultado eleitoral do PSD nesta zona rural. 

Os seus estrategas já sabem que, nestas eleições, vão perder votos para o Chega!, para a coligação encabeçada pelo CDS e para um dissidente. Não era necessário perder votos com a inabilidade de Varela. E, antes do seu afastamento, teve de ser o antigo presidente da ex-junta de freguesia, Álvaro Baltasar Jerónimo, a tomar conta dos assuntos da Serra do Bouro. 

Significativamente, como aqui assinalei, o "slogan" inventado para a União de Freguesias foi "Do centro da cidade até ao mar".  Para Varela, o "centro da cidade" é que era fundamental e... ao mar, ao Oceano Atlântico, chega-se pelo deserto: a Serra do Bouro não existe, não tem lugar aqui. Não lhe interessava, não conta para nada. A "trip" é directa: da cidade passa-se de imediato à costa.

Varela não só não "embelezou" a Serra do Bouro como a rasurou do mapa. Foi o seu segundo fracasso

 

O adeus à Câmara Municipal

 

Tinta Ferreira e Jorge Varela: adeus


O actual presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha, Tinta Ferreira, fará, até às eleições autárquicas de 2025, o seu terceiro e último mandato. E, como é habitual nestas coisas (e na concepção monárquica do poder municipal que vigora), Tinta Ferreira irá indicar um sucessor.

Varela queria esse lugar. Queria ser o delfim de Tinta Ferreira. Queria passar do centro de poder da "sua" união de freguesias para a câmara. Sem estar ligado à "linha" histórica do antigo presidente Fernando Costa (como Conceição Pereira e Hugo Oliveira), sendo licenciado (em Direito) e o único sucessor potencial com direito a ser designado como "Dr." (o que é fundamental, nestas coisas), Varela teve sempre como meta a presidência da Câmara Municipal de Caldas da Rainha. Nunca o escondeu, dizem-me.

Para o fazer, precisava, no entanto, de duas coisas: de ter um bom resultado eleitoral em 2021 na "sua" União de Freguesias e de ter o apoio integral da "máquina" do PSD. Os seus falhanços ditaram o contrário.

E foi assim que, fracassado no seu objectivo essencial, Varela acabou por ter de sair de cena, trocando o cargo municipal (onde falhou) pelo lugar de... subdirector de uma escola de um instituto politécnico. (Por acaso, quando primeiro vi a notícia, até pensei que fosse como "vice" mas da presidência do próprio Instituto Politécnico.)

Em 1593 o rei francês Henrique V proferiu uma frase imortal: "Paris vale bem uma missa." E, com ela, converteu-se do protestantismo ao catolicismo, ganhando o trono de Paris com uma simples missa. Varela, no seu adeus ao trono da Câmara Municipal de Caldas da Rainha, teve de reger-se pelo mais prosaico "Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar."

 

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