Vinte e oito pessoas numa sala onde, à vontade, poderiam estar pouco mais de vinte. Com as janelas bem fechadas, que são amplas e por onde se faz sentir o calor do sol quando não há nuvens. É aqui, no ginásio Balance de Caldas da Rainha, que se desenrolam as mais concorridas aulas de Pilates das manhãs. E onde vai ficando o rasto de corpos mal lavados, ou por lavar, e de roupa que talvez só seja lavada à semana. Na melhor das hipóteses.
Não estou a falar de praticantes de desporto que se dedicam a correr, em máquinas de interior, a elevar esforçadamente peso e a outros esforços que fazem suar, e que assim se mantêm por uma hora ou mais. É o dia a dia dos ginásios onde, felizmente, quem não toma banho a seguir se veste com as roupas que já trazia, ou outras, e leva consigo o cheiro para onde quer que vá.
Neste caso é diferente. Falo de um número significativo de senhoras que, lá fora, se devem apresentar bem postas e arranjadas, talvez lavadas e limpas, muitas delas obviamente avós que até talvez obriguem os respectivos netos a lavar mãos e a tomarem banho.
Aqui, nas aulas superlotadas de Pilates, não é o que fazem. Já chegam, mesmo em manhãs de sol e de temperatura mais agradável, enchouriçadas em roupas grossas e anoraques. Não fazem qualquer actividade de aquecimento, limitando-se a ficar sentadas à espera do começo da aula, às vezes durante mais de quinze minutos. Trazem consigo odores corporais e espalham-nos bem, depois de despirem parte da roupa que trazem no que devia ser apenas um vestíbulo de passagem e que se transforma num vestiário, onde tudo (pessoas e cheiros) se acumula. A seguir vão para dentro da sala encasacadas, com pijamas que parecem roupa de treino e com roupas de treino que parecem pijamas. E com cheiro.
Como já aqui registei, vêem-se-lhes as meias encardidas. Terão comprado vários exemplares, todos iguais, de meias e de calças justinhas? Não me parece. As recomendações para as aulas de Pilates incluem o uso, apenas, de meias (na pior das hipóteses...) ou a sua prática com pés descalços. A ideia é garantir a melhor adesão de todas as partes do corpo, pés incluídos, ao piso onde os exercícios se desenrolam. Mas há, até, quem calce dois pares de meias para estas aulas. Mas o pior é o que não se vê.
Dirá quem me lê que eu estou a pôr-me de fora nesta descrição do pequeno inferno dos corpos sujos. Não estou. Nas minhas três idas ao ginásio por semana faço exercício numa máquinas antes da aula de Pilates. Faço a aula de Pilates e depois, durante mais de hora e meia, dedico-me a outras práticas de treino físico (incluindo bicicleta). Suo, com frequência, mas a roupa que visto é arejada e deixa-me braços e pernas livres e eu faço as aulas de Pilates descalço. E a roupa que uso no ginásio vai sempre para lavar depois de cada utilização. No fim de cada actividade o cheiro desaparece com o banho.
Não é o que acontece com essa maioria feminina das aulas de Pilates. Porque o cheiro com que fui confrontado já não era só o das meias sujas. Era um cheiro acentuado... a bacalhau. Ao bacalhau que, antes de ser demolhado, ganha alguma humidade. Até me parece que já sei de quem é. E não, não penso que ela traga o cheiro por ter estado a demolhar bacalhau antes da aula matinal de Pilates...
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