terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Os cães e os outros

 

Cinco: é este o número de cães que passaram pela minha família, considerando o núcleo original e os seus descendentes. Dos cinco, três já não estão connosco, por doenças diversas e em circunstâncias sempre muito tristes. Restam dois. Não sei se haverá mais. 

A existência de cães obrigou a determinadas condições fundamentais e uma delas foi dar-lhes sempre a devida atenção e de uma forma crescentemente activa, porque, em tudo o que se refere aos seres vivos, os cães não trazem livro de instruções e nós, os humanos que nos interessamos por eles, estamos sempre aprender. Comer e beber, sítio onde dormirem os sonos mais profundos e confortáveis à medida das suas necessidades, cuidados médicos, brincadeiras e passeios e... companhia. De tudo isto precisam, é tudo isto que devemos dar-lhes.

Os cães são seres vivos eminentemente sociais, e sociáveis no que se refere aos seres humanos, e sempre considerei que deviam acompanhar os "seus" humanos quando os períodos de separação são superiores ao que estimo como razoáveis em matéria de horas, impedindo situações de tensão. Porque é impossível pô-los com "os avós" ou explicar-lhes que a nossa ausência é temporária.

Nunca, por comodidade humana, os nossos cães foram enviados para "hotéis" ou outros serviços de alojamento. Nem mesmo quando, em Novembro do ano passado, a casa ficou inabitável na sequência de um incêndio doméstico. Estivemos sempre juntos. E mesmo em pequenas viagens de carácter turístico não têm ficado para trás, porque hoje já se encontram muitas ofertas de alojamento onde são aceites cães. E onde há pessoas amáveis e atenciosas que nos dizem que o facto de serem três cães e não dois é problema nosso, porque nos acolhem sempre, ou que (agora são três e não dois..), jovialmente, que "não faz mal, porque a minha filha é veterinária". Têm toda a nossa gratidão. 

E se há amigos, a quem sempre estaremos também gratos, que nos aceitam e aos nossos cães,  há, às vezes, incompreensões. 

Por exemplo: há quem nos tenha aceitado com cães uma vez, para depois nem voltar a pôr a hipótese e, no entanto, nem houve problemas. Há quem sugira que é melhor não, quando noutras ocasiões já pôde ser. Há quem exclua. Os cães e nós, por extensão, claro. E não me refiro a estranhos (às vezes, até, mais disponíveis) mas a pessoas bastante mais próximas. Incluindo familiares.

E, abstendo-me relativamente à estima ou ao grau de parentesco, sentindo-me cada vez mais indiferente, dou por mim a pensar que é verdadeiro, e nada exagerado, o que às vezes se diz: quanto mais conheço as pessoas, mais gosto dos cães. Estes, pelo menos, são leais até ao fim. E eu tenho de ser leal para com eles. Não pode ser de outra maneira.



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