Gostei de "A Gaiola Dourada", da articulação hábil entre a comédia (e em vários registos, de situações e de personagens e de interpretações, de Rita Blanco a Maria Vieira) e o melodrama, da história (simples e bem contada), do sentido impecável de "timing" do seu realizador, Ruben Alves.
O filme foi um êxito de bilheteira e ainda bem. Até porque aponta um caminho ao cinema português: ir sem problemas, e inteligentemente, ao encontro do público, procurar co-produções (para garantir outros mercados), voltar costas à desgraçada dependência dos subsídios estatais para tudo (do experimentalismo à arte e ensaio, passando pelo assim-assim) e aos padrões de gosto da elite intelectual dominante.
"A Gaiola Dourada" tem pontos de contacto com o cinema de Pedro Almodovar (que à comédia e ao melodrama associou todos os fantasmas sexuais espanhóis) e isso não lhe fica mal. O terreno cultural e social não é muito diferente.
Parece mal, no entanto, gostar de "A Gaiola Dourada".
Ontem mesmo, um representante da secção professoral da crítica de cinema lisboeta rematava um seu escrito, em que rasgava as vestes pelo facto de "o financiamento público do cinema português ter ficado pelas ruas da amargura" este ano, com uma observação razoavelmente depreciativa para os 750 mil espectadores que compraram bilhetes para ir às salas de cinema ver "A Gaiola Dourada": "Nada contra o trabalho e ambição do filme mas... se é disto que o Zé Povinho gosta!..."
Pela minha parte, apesar de nem me importar de ser "Zé Povinho" (até porque resido no concelho de Caldas da Rainha...), respondo ao distinto docente com um manguito apropriado e fico à espera de mais filmes assim, saudando o realizador e a sua óbvia coragem.
Joaquim de Almeida e Rita Blanco em "A Gaiola Dourada" (imagem retirada de http://www.agaioladourada.pt/index.html) |
Sem comentários:
Enviar um comentário