Há uma indisfarçável sensação de fim de regime neste Orçamento de Estado para 2014 e, numa triste aliança, a tradicional capacidade portuguesa de desenrascanço e de deixar tudo para a última hora com o cansaço político a que o Governo começa a ceder.
Este orçamento da 25.ª hora feito para satisfazer, como é natural, os nossos credores não precisava de trazer tantas más notícias e de deixar a impressão de que ficou muita coisa por fazer (como é o caso do insondável mistério da "reforma do Estado"). Podia ser o corolário de um processo de ajustamento financeiro e económico mais equilibrado. Doloroso, claro, mas equilibrado. Infelizmente não é.
As responsabilidades não são apenas do Governo.
À inabilidade governamental correspondeu o desvario de todas as oposições - e foram muitas, talvez em maior número e mais fortes do que a desejável transparência da vida democrática deveria permitir.
Se este orçamento traz a impressão de que o ciclo governativo chegou ao fim (o "pós-'troika'" pode recomendar mesmo a antecipação das eleições legislativas para 2014, apesar da dramática falta de alternativas), ele também cria uma nova obrigação a quem tem estado no outro lado.
O PS e o PCP (o BE, praticamente, já pouco conta) têm neste momento a obrigação irrevogável de apresentarem as suas propostas políticas e de governo para as eleições legislativas, quer eles se realizem em 2015 quer sejam antecipadas para 2014.
Os dois partidos devem não só dizer quais as medidas tomadas até agora por este governo, que tanto criticaram, que querem anular e alterar mas também declarar o que farão de diferente no cenário provável do já mencionado "programa acautelar" pós-"troika": remunerações, pensões, reformas, subsídios, despesas do Estado, Serviço Nacional de Saúde, impostos, apoio aos desempregados, Segurança Social, CGA, ADSE... tudo. Mas tudo, mesmo.
Este fim de ciclo (que pode ser um verdadeiro fim de regime) impõe a esses partidos propostas construtivas e declarações de intenções e, para tornar a coisa mais séria, a suspensão da berraria contestatária.
Pois o futuro não é deles, no caso de uma provável derrota eleitoral do PSD?!
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