A imprensa em papel vai ser, em maior ou menor grau, uma das vítimas do coronavírus.
Mas, em grande medida, por sua própria responsabilidade. E não apenas porque aquilo que diz sobre uma dada situação de emergência nacional continua ficar muito atrás do imediatismo das televisões.
Às pequenas e grandes debilidades da imprensa, em geral, que se tornaram grandes debilidade ao longo de tantos anos de acumulação, juntaram-se agora outras: a histeria sensacionalista do pânico (as televisões estão, manifestamente, a exagerar no disparate) e a intensificação (repugnante!) da veneração pelo poder. Há muita gente que já não está para isso.
Veja-se, a título de exemplo, como quase toda a imprensa se curvou perante o comportamento mais recente do Presidente da República, que saltou do medo mais abjecto para a ânsia do protagonismo.
Não há "plano de resgate", não há publicidade "amiga" (nem sob ameaça…) que salve a imprensa. Fizeram, os seus próprios protagonistas, a cama do caixão em que agora se deitam.
No "Eco" de hoje, no mesmo dia em que o "Expresso" divulga um pedido de auxílio à imprensa que o "Jornal de Notícias", na sua candura, pespega na primeira página, escreve o jornalista Rui Calafate em tom vingativo: "(…) Empresas cancelam campanhas de publicidade com a justificação de que como se está em casa não vale a pena investir pois não se compram produtos. Isto é de uma tacanhez e falta de visão inaudita. (…) Era bom que todos ajudassem, sobretudo grandes empresas, instituições que têm capacidade para manter o investimento (exemplo da Santa Casa da Misericórdia), bancos a quem tanto já demos. É tempo de não se desinvestir nos media, pelo contrário, precisamos deles saudáveis para serem nossas muletas para ultrapassar estes dias complicados. E irão ver que não esqueceremos que, tal como na política, saberemos reconhecer quem esteve e quem desertou (…)".
É também de hoje um título da primeira página (papel, ou "on line", do quase extinto "Diário de Notícias") que exemplifica o tipo de jornalismo em que agora se insiste, com títulos retorcidos que, por mais voltas que lhes dêem, não servem para pôs as pessoas a comprar jornais outra vez e que atingem, com frequência, um nível de ridículo dispensável.
Ei-lo:
Mas, decomposto (e dá ideia de que muitos dos que fazem, ou decidem, as primeiras páginas não sabem que elas podem ser apreciadas parcelarmente), dá isto, a que pode, com ironia, aplicar-se um dos Mandamentos: "Não cobiçarás a mulher do teu próximo."
O jornalismo que temos agora foi aquele que as empresas do sector quiseram, ou deixaram, que acontecesse. E nós não podemos estar a meter nisto o dinheiros de nossos impostos. Façam melhor… se ainda forem a tempo.
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