Os primeiros-ministros Cavaco Silva, António Guterres e José Sócrates foram amigos dos empreiteiros, com as auto-estradas, a Ponte Vasco da Gama, a Expo 98, a Parque Escolar… e estiveram por um fio um novo aeroporto e o TGV e mais uma ponte à boleia do comboio de alta velocidade.
Foram anos dourados para as empresas do sector. Para as maiores, para as mais pequenas, para as subcontratadas, para aquelas que assentem mais no biscate temporário. E, reciprocamente, para os partidos dos respectivos primeiros-ministros.
O pretexto, sobretudo na época de Sócrates, foi sempre a “reanimação” da economia, mais do que a criação de novos equipamentos públicos ou a sua substituição.
Mas é mais do que isso: o pagamento das obras públicas às empresas do sector da construção civil dá dinheiro não apenas às empresas mas também aos empresários; obriga a contratar mais pessoal em domínios muito diversificados e, por isso, mesmo que temporariamente, faz diminuir o desemprego, o que tem um efeito estatístico sempre interessante; anima sectores subsidiários da construção e também os bancos. E em caso de dificuldade, haverá sempre algum dinheiro para as empresas fornecedoras do serviço e, se não for o caso, uma parte pode ir sendo paga aos bochechos e algumas obras atrasam-se sem problema.
Os primeiros-ministros que optaram por esta política de favorecimento sectorial conseguiram ganhar eleições, até chegar o momento em que um factor imponderável os tirou do poder. Há nisto tudo um efeito de “branco é, galinha o pôs” que já tem sido diversas vezes aludido.
A tendência (que não foi seguida pelo anterior governo, que teve de gerir o Programa de Ajustamento da pesada herança socialista) foi agora retomada pelo governo da tríade PS/BE/PCP e da pior maneira: como parece não haver dinheiro, ou mais dinheiro depois de satisfeitos os grupos do eleitorado que podem ser mais facilmente conquistados por estes partidos, o Governo decidiu ir buscar dinheiro onde não devia – ao Fundo de Estabilização da Segurança Social – para dar aos empresários da construção civil. São 1400 milhões de euros que serão desviados das reformas e das pensões (o FESS é uma espécie de “reserva” da Segurança Social). Talvez só para começar.
Pode argumentar-se que o FESS tem muito dinheiro e que está sempre a lucrar com os muitos milhões que vai ganhando com os seus investimentos mas as bases desta opção não podiam ser mais erradas e, sobretudo, mais perigosamente erradas.
A Segurança Social não é um fundo de caixa para trocar por votos ou por financiamentos partidários. E é isso que vai acontecer. Pelas mãos do PS (nada de novo), do BE e do PCP (que, se calhar, até estarão dispostos a receber à percentagem… sobre a percentagem).
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