Desengane-se quem pense que o reinado governamental de António Guterres, na sua primeira encarnação, foi o do consenso enquanto valor universal. Foi-o porque era necessário introduzir uma marca de diferença relativamente ao anterior primeiro-ministro (Cavaco Silva) e porque o PS não tinha maioria absoluta no Parlamento.
A matriz do PS, enquanto partido dominante e de regime, tem sido a da arrogância e da sobranceria.
Mário Soares teve de se inibir devido ao peso da rua durante o PREC e depois devido à sua aliança com o PPD e ao empréstimo internacional que teve de pedir. Jorge Sampaio parece ter ficado genuinamente dividido entre a choraminguice e a pequena tirania. E depois Sócrates levou o espírito arrogante do PS a um máximo nunca antes alcançado. E com ele andou, como já antes andara com Guterres, o actual primeiro-ministro.
Dizer dele que é tipo “quero, posso e mando” ou “dono-disto-tudo” corre o risco de não ser suficiente. Convém, num caso destes, chamar os bois pelos nomes: sobranceria e arrogância. É este, em definitivo, o retrato do PS e do seu “novo tempo” que Costa quer cavalgar.
O episódio das bofetadas de João Soares ou a soma de desconsiderações feitas pelo ministro da Defesa às Forças Armadas são mais do que sintomas.
São traços característicos de um PS que, de uma forma mais rústica, teve um dirigente a dizer que “quem se meter com o PS, leva” e outro a falar em “malhar na direita”.
São sinais de um PS que o BE e o PCP apoiam em troca de migalhas dos orçamentos e que já começou a fazer a ocupação paulatina de todos os lugares que puder arranjar, impondo interlocutores bem controlados a um partido clientelar.
São expressões bem claras de intolerância e de arrogância. Com o apoio do BE e do PCP. E com os críticos e dissidentes como alvos. Mesmo pela bofetada ou pelo gesto mais rasca.
E a democracia, sobreviverá?
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