sábado, 2 de abril de 2016

House of Costa


Quando o PS, o PCP e o BE fizeram o golpe de Estado parlamentar que lhes permitiu formarem um governo alternativo ao da coligação que vencera as eleições legislativas, não faltou quem invocasse “Borgen”, a série televisiva dinamarquesa em que a criadora de um partido alternativo consegue chegar ao governo da nação.
Mas o padrão para a forma como nasce, e funciona o actual Governo, o da “geringonça”, tem mais a ver com a série americana “House of Cards”. Nesta série conta-se como o equivalente ao presidente do grupo parlamentar das democracias europeias, o “party whip” do Partido Democrático norte-americano, consegue – à custa das mais variadas negociações, maquinações, traições, tráficos de influências, corrupções e mesmo crimes de morte – chegar a vice-presidente e depois a presidente dos EUA.
Frank Underwood, o nome desta versão de Macbeth com um doutoramento em Ciência Política e especializações em “Os Doze Césares” e “O Príncipe”, a que dá corpo e rosto o actor Kevin Spacey, é um retrato exemplar do que podem fazer os políticos habilidosos e sem escrúpulos quando a democracia e os seus princípios e instituições falham e eles se movem por uma sede absoluta de poder absoluto.
António Costa, o primeiro-ministro triunfante, é uma espécie de clone de Frank Underwood, à escala portuguesa. Conquistou o poder de uma maneira parlamentarmente sórdida e mantém o lugar graças – pelo menos no que é visível – ao apoio de um BE e de um PCP que, famintos de poder, mergulharam com alegria naquilo a que a doutrina marxista-leninista definiu como “oportunismo de direita”.
Basta, aliás, ver como a aliança do PS com o BE e o PCP funciona quando os seus chefes vislumbram algum perigo no horizonte. Os compromissos anteriores não existem, aguenta-se tudo e diz-se o que for preciso e o seu oposto.
É isso que torna tão difícil a tarefa dos partidos da oposição.
Se estes cumprirem os formalismos da democracia parlamentar e se respeitarem os princípios básicos da lealdade democrática, terão sempre pela frente uma aliança feita de oportunismo e de fome de poder absoluto que quer sobreviver a todo o custo.
O Governo pode, é certo, cair por um acaso, por um revés das circunstâncias económicas e financeiras, pelo resultado das eleições autárquicas (aconteceu com os primeiros-ministros Pinto Balsemão e António Guterres). Mas combatê-lo diariamente, o que é necessário, e derrubá-lo o mais depressa possível,, o que é igualmente necessário, pode exigir que, como o Underwood português, se deite mão de outros recursos.
Frank Underwood é uma personagem de ficção. Kevin Spacey é um ator fantástico e as suas interpretações em “Os Suspeitos do Costume” e “American Beauty” são memoráveis. Por isso, “House of Cards” é uma série extraordinária.
Ao contrário, a bem real “House of Costa” não é. É apenas um momento insuportável da democracia portuguesa que provavelmente não sobreviverá ao projecto de poder absoluto de António Costa se este se eternizar. 


Sem comentários: