Como a polémica, relativamente discreta, não terminou (e até há quem me acuse de querer que os "independentes" sejam "submissos"...), é conveniente retomar a minha crítica ao Movimento Viver o Concelho (MVC), a associação de "independentes" que, tendo tido uma boa estreia eleitoral em Setembro de 2013, se arrisca a nem sequer chegar às eleições de 2017.
A saber:
1 - O PCP tem uma estrutura partidária em Caldas da Rainha. A capacidade de intervir deste partido devia facilitar a obrigação dos seus militantes de intervirem a nível nacional mas também a nível local.
Ou seja: o PCP é obviamente livre de promover as suas campanhas (o "pacto de agressão", etc) no concelho de Caldas da Rainha as não devia descurar a crítica ao seu "inimigo principal" (a formulação leninista), que é a Câmara Municipal, do PSD. Mas enquanto faz uma coisa não faz a outra.
O que está a acontecer ao MVC não é muito diferente: a sua intervenção no concelho diminuiu assinalavelmente e essa ausência faz-se tanto mais notar quanto mais aumenta o envolvimento dos seus principais animadores na campanha presidencial de um candidato que, no mínimo, não é consensual.
Eu, como eleitor, não quero o MVC "submisso". Quero é que o MVC que apoiei combata activamente o PSD caldense e tente lutar por uma alternativa em 2017.
Mas se os seus esforços vão para uma campanha presidencial, é natural que não o consigam fazer, mesmo que (ainda) o queiram.
2 - O MVC, que nasceu do "nada" político, teve mais de 2000 eleitores que lhe deram o seu voto em 2013. O MVC formou-se para concorrer às eleições locais de 2013 e, penso eu, para prosseguir esse combate e, recebendo o voto dos eleitores para esse efeito, conquistar os órgãos autárquicos.
O voto no MVC não é transferível, no entanto. Até porque, não existindo antes de 2013, o MVC não teve, como não tem, um programa que transcenda o concelho. Os votos que recebeu expressam um mandato claro e não são património do MVC como se pode aceitar que são os votos nos partidos tradicionais.
Nesta perspectiva, o MVC está a levar os votos que recebeu em 2013 para uma candidatura presidencial como se eles fossem coisa sua. E não são.
E os seus animadores podem dizer que o fazem a título individual (embora nada se note, em geral), o certo é que a presidente da associação que é o MVC e que, como dirigente do MVC, foi, e bem, candidata à Câmara Municipal de Caldas da Rainha, intervém na estrutura da campanha presidencial sem deixar de ser dirigente do MVC.
Quem não pode estar de acordo com essa candidatura presidencial (e ninguém é obrigado a apoiá-la, ou estarei enganado?) tem de guardar as distâncias relativamente também ao MVC porque vê agora esse movimento de "independentes" transformado num movimento "dependente" de um candidato presidencial.
3 - O candidato presidencial apoiado, objectivamente, pelo MVC pode perder as eleições em Janeiro de 2016.
Sampaio da Nóvoa é um candidato mais forte e com melhores apoios que "pesca" nas mesmas águas. Haverá um candidato à partida também mais forte apoiado pelo PSD e pelo CDS. Só por um milagre (e não divino...) é que esse candidato chegará a Presidente da República.
E essa derrota será uma derrota dos seus apoiantes. Se os seus apoiantes o fazem a título individual, a derrota é deles. Mas se arrastam com eles uma expressão colectiva, a derrota afecta toda a gente.
Ou seja: o nível de comprometimento do MVC fará com que a derrota eleitoral arraste o próprio MVC. Num movimento frágil como este é, será um revés grave para as eleições locais do ano seguinte.
Tendo entrado em alta na política caldense, a derrota do "seu" candidato empurrará para o fundo o MVC e fará com que muitos eleitores de 2013 se interroguem sobre o que fará o MVC ao seu voto depois de 2017.
(E, sendo fácil especular sobre o que poderiam ganhar alguns apoiantes com a vitória do candidato presidencial, nem o quero fazer.)
A questão fundamental é esta: os "independentes" tornaram-se dependentes de uma campanha política e, com a perda da sua "inocência" política, correm o risco de se perderem para sempre.