sexta-feira, 11 de julho de 2025

CNN de cá: cuspir na sopa do convidado e atirar a sopa suja à cara dos outros comensais


Vamos ao básico: que se espera de um jornalista quando entrevista uma pessoa para um órgão de comunicação social? Em primeiro lugar, espera-se que obtenha um esclarecimento sobre um assunto que tem interesse para o público, partindo do imprescindível ponto de vista de que a pessoa ouvida, ou entrevistada, tem conhecimento da matéria, em geral ou no particular.

Nesta circunstância, dos inquéritos de rua às grandes entrevistas com dirigentes de primeiro plano (políticos, ou de outras esferas), da recolha de declarações sobre assuntos de pequena e média importância à consulta sobre a opinião dos agora tão populares comentadores e "especialistas", só se pode esperar que o jornalista se remeta, modestamente, a um plano secundário e que deixe a outra pessoa falar. 

Significa isto que o entrevistador deve, pelo menos durante a entrevista, omitir as suas próprias opiniões ou expressá-las, de modo cortês, sem nunca transfomar a entrevista numa discussão pessoal. 

O entrevistado está a ser entrevistado porque a sua opinião é relevante. Se, por exemplo, o entrevistador pensa que o sal deve ser todo posto a olho quando começa a cozinhar um determinado prato e se o entrevistado é um cozinheiro experiente que prefere ir acrescentando sal ao seu cozinhado, verificando gradualmente o sabor, deverá perguntar "porquê": porque é que ele faz isso? O cozinheiro explica o que faz e o diálogo só prosseguirá, e sobre essa matéria específica, se restarem dúvidas bem estribadas sobre a opção do cozinheiro. 

É simples e é uma regra antiga do jornalismo. 

Não foi isso que aconteceu aqui, nesta lamentável exibição de um jornalista na CNN nacional:





Convém registar que o vídeo que primeiro circulou foi bloqueado por decisão da CNN/TVI:

O vídeo, no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=yI8iLcLLCh4&t=339





Como se pode ver, e ostensivamente, o jornalista (Pedro Bello Moraes) interrompeu, acometeu, contraditou e atribuiu afirmações, que foi sempre condenando, ao seu entrevistado (Carlos Branco, major-general do Exército português) sem lhe dar hipótese de falar e de se defender. 

Voltando ao exemplo que dei, foi como se o entrevistador começasse a atacar o cozinheiro dizendo que ele defende que se atirasse o sal todo para o cozinhado logo à partida. 

No fim, como se pode ver no vídeo, o entrevistador encerrou abruptamente a entrevista, cortou a palavra ao entrevistado ... e nem sequer o deixou comentar aquilo que lhe fora pedido que comentasse.

No vídeo percebe-se a estupefacção do seu entrevistado. Seria muito natural, pelas regras de experiência comum, que o major-general Carlos Branco lhe voltasse as costas e saísse do estúdio ou que tivesse algum gesto ou pronunciamento mais vivo. Mas Carlos Branco é, como se vê,  uma pessoa bem-educada e cortês e, com a sua atitude, ao conter-se, teve um gesto de respeito para com o público.   

É difícil perceber o comportamento de Bello Moaes. A CNN de cá tem, obviamente, uma agenda política, relativa à crise ucraniana, que reflecte fielmente as opções do governo ucraniano. Terá sido por isso? E, por causa disso, quem possa não estar de acordo é atacado de emboscada? Ou Bello Moraes agiu apenas sozinho, bem sabendo, porém, que estava a agir contra tudo o que a deontologia e a ética impõem (ou impunham e agora já não?) aos jornalistas.

Não o conheço, não tenho aqui à mão comentadores ou especialistas (em ética jornalística, boas maneiras ou psiquiatria, por exemplo) que me expliquem este comportamento, mas, dada a natureza pública da performance do entrevistador, tenho o direito, como espectador, de me interrogar sobre o que terá motivado o paroxismo da criatura:

-- Foi por obediência à agenda pró-ucraniana e anti-russa da empresa?

-- Foi embriaguês?

-- Foi algum desconforto físico ou emocional?

Se alguém tiver uma resposta, agradeço que ma envie para ela ser aqui publicada.


*

Já agora: a partir deste momento, qualquer pessoa que seja convidada pela CNN portuguesa para se pronunciar sobre o que for, ou para ser entrevistada, tem de temer que algum entrevistador mais assanhado a ataque, sem lhe dar oportunidade para se defender. 

Porque o que aconteceu acaba por ser da responsabilidade da própria CNN e abrange todos, mas todos, os seus jornalistas. 

Foi como se convidassem uma pessoa para ir lá jantar, lhe cuspissem na sopa e atirassem depois a sopa suja à cara dos restantes comensais.

Esta CNN portuguesa é isto?



(Imagem de fonte aberta de acesso público.)


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