sábado, 26 de julho de 2025

Carlos Branco e a CNN: é de homem!

Carlos Branco:
"Criou-se uma situação insustentável em que foram transpostas todas as linhas vermelhas que a paciência sem limites pode tolerar. Foi um péssimo exemplo, um caso daquilo que o jornalismo não pode nem deve ser. "


No seguimento da hostilização a que foi sujeito por um jornalista da CNN, como registei aqui e aqui, o major-general Carlos Branco tomou a decisão de, educadamente, mandar bardamerda a criatura e, de forma indirecta, a CNN. A estação televisiva podia ter corrigido a hostilização do entrevistado, mas optou por não o fazer. 

Numa época em que quase toda a gente, como se dizia noutros tempos, dá o cu e cinco tostões para aparecer na televisão, a postura de Carlos Branco, que me honra poder ter como amigo, é de enaltecer. O resto, e os insultos que lhe fazem, faz parte da espuma dos dias.


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Eis a declaração, na íntegra, do major-general Carlos Branco, retirada do Facebook:

No seguimento da minha “entrevista” com Pedro Bello Moraes (PBM), no dia 10 de julho, na CNN Portugal, pelas 13 horas, em que este ultrapassou todos os limites da ética e da deontologia jornalística, sem posteriormente se retratar ou admitir o erro pela sua prestação vergonhosa, não me restava outra alternativa que não fosse a de cessar a minha colaboração com a CNN Portugal. Ficou evidente uma assimetria de papéis que tem de ter consequências e que eu não posso consentir.

Criou-se uma situação insustentável em que foram transpostas todas as linhas vermelhas que a paciência sem limites pode tolerar. Foi um péssimo exemplo, um caso daquilo que o jornalismo não pode nem deve ser. O desempenho medíocre e desastrado de PBM vai tornar-se num estudo de caso nas escolas de jornalismo, para se mostrar aos iniciados na carreira o que não se deve fazer, e como não se devem comportar quando se é ignorante e impreparado numa matéria.

O meu agradecimento ao Nuno Santos pelo convite que me fez há três anos para colaborar na análise do conflito ucraniano. A CNN foi pioneira em Portugal no convite a militares para analisarem/comentarem de forma continuada e sistemática situações de conflito, algo que já se fazia noutros países, em particular nos EUA, mas que foi mal recebido num meio que se julga “prá frentex” onde, infelizmente, ainda prevalece alguma inveja e provincianismo. Na altura, isso criou azia a muita gente. Primeiro estranhou-se, mas depois entranhou-se. Agora vários canais, copiando a CNN, recorrem a militares. O que há três anos era considerado, por alguns, um crime de lesa-pátria tornou-se normal, até mesmo incontornável para quem quiser estar no topo das audiências.

Gostaria de sublinhar que a CNN Portugal é a única cadeia de televisão que ainda permite diversidade de opiniões, num panorama nacional onde os laivos censórios se tornam cada vez mais evidentes, no qual se incluem os canais públicos. O pensamento não alinhado com a propaganda imposta pelo mainstream corre o risco de se tornar delito.

Desejo votos de sucesso à CNN Portugal e aos que nela trabalham com afinco, elevado profissionalismo e dedicação. Não confundo a CNN com a mediocridade de PBM, colocado em horários em que ninguém vê televisão. Os períodos da grande audiência estão destinados a jornalistas com menos de metade da sua experiência profissional, mas indiscutivelmente com mais talento, algo que manifestamente falta a PBM.

A ausência nesta fase do comentário televisivo não significa o abandono da análise dos acontecimentos, que continuarei a fazer noutras plataformas, lembrando sempre que há mais marés do que marinheiros.


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Depois do seu corte com a CNN, que entretanto se remeteu a um silêncio de consciência pesada, Carlos Branco debruçou-se sobre a actuação do próprio jornalista, num texto intitulado "Quo vadis, ética e deontologia jornalística?" publicado no seu blogue Cortar a Direito.

O texto, que é uma análise incisiva do jornalismo praticado por um número considerável de jornalistas que agem como Pedro Bello Moraes, regista que o episódio revela "três temas incontornáveis relacionados com o comportamento profissional do jornalista em causa: a falta de ética, a duvidosa deontologia jornalística e a desonestidade intelectual". Extenso e bem argumentado, pertinente e certeiro, remeto para ele os meus leitores.





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