O primeiro alarme relativo ao vírus SARS-CoV-2 (que causa a doença designada por covid-19) surgiu no final do ano de 2019 na China, em Wuhan. Acredito, como escreve Mark Honigsbaum (em "O Século das Pandemias"), que foi essa a sua origem, a partir da exposição de animais selvagens nos chamados "mercados frescos" da China.
É legítimo, no entanto, pensar que este coronavírus já estivessem circulação porque há vestígios dele na Europa e no Brasil ainda em 2019 e os primeiros casos registados, sem alarme, em Portugal datam de Janeiro de 2020. (O que significa, que é essencial para a imunidade de grupo, que o contacto dos seres humanos com o SARS-CoV-2 aconteceu há mais tempo do que oficialmente se diz.) É, no entanto, na China que é dado o pontapé de saída para a vaga de medo que se gera e para a recuperação, numa escala monstruosa, do hábito medieval de isolar os doentes.
O medo nascido na China criou raízes em todo o mundo e o modo como se ramificou e se agigantou está bem visível, ainda. A epidemia causada pelo SARS-CoV-2 transformou-se, como tantas vezes acontece, em pandemia. Ou seja, uma epidemia à escala mundial. E, apesar de a covid-19 não ser especialmente mortífera, o medo deu-lhe um cariz assustador, capaz de impressionar mesmo os mais inteligentes.
A polémica, nunca explicada, sobre remédios capazes de a combaterem abriu um caminho: a solução poderia ser uma vacina. O SARS-Cov-2 é um vírus que ataca as vias respiratórias e as suas manifestações são muito semelhantes às da gripe. Com este ponto de partida, e com a generalidade dos países afundados em ambientes de medo e de suspensão dos direitos democráticos (decididos e aplicados por políticos que não queriam contrariar os seus eleitorados), as grandes empresas farmacêuticas dedicaram os seus esforços à criação de vacinas contra a covid-19. O modelo de negócios só poderia ser o das vacinas contra a gripe. E os clientes? Praticamente, todos os governos do mundo.
Por outro lado, o clima de medo criado à escala mundial exigia urgência. O conceito das vacinas capazes de erradicar doenças muito graves foi o modelo. Mesmo que ainda só com autorização temporária, e sem uma aprovação definitiva, atendendo até à reduzida gravidade da afecção, o negócio estava garantido. E a sua dimensão garantia lugar para todas as empresas farmacêuticas.
O resultado começa a ser evidente: as vacinas contra a covid-19 tornaram-se uma máquina de fazer dinheiro, os números são astronómicos, capazes de gerarem novos multimilionários.
E a eficácia? É mais do domínio do pensamento mágico do que do pensamento racional: desde que as populações acreditem e olhem com gratidão para os governos que lhe deram as vacinas, tudo correrá bem. E pouco importam as manifestações estranhas e as mortes súbitas e inexplicáveis. Para os governos que cavalgaram o medo, a satisfação ansiosa manifestada pelos seus eleitorados compensa o que pagaram às empresas farmacêuticas. Das quais receberão uma parte por via dos impostos sobre as empresas, segundo se pode supor. E outra parte de outra maneira e com destinatários individuais?
Em 1993, quando trabalhava como jornalista no "Diário de Notícias", fui indicado pela chefia para integrar um grupo de jornalistas de vários órgãos de informação que, a convite de uma empresa, farmacêutica, foi à Holanda saber como se fazem as vacinas contra a gripe (que demoram um ano a serem feitas). Em troca de uma manhã de trabalho, com encontros com os responsáveis da empresa e uma visita aos laboratórios, deram-nos dois dias de turismo em Amesterdão, uma máquina fotográfica Polaroid a cada um e, dois meses depois, um presente de Natal composto por duas garrafas de vinho e dois queijos. (Os queijos eram bons.) Tudo o que tivemos de fazer foi escrever o que vimos e o que nos disseram. Penso que todos os membros do grupo o fizeram, tal como eu, embora em texto não assinado (porque não era a minha área de especialização e porque a matéria era apenas uma notícia).
O que aqui estava em causa eram "peanuts", como se costuma dizer, que podiam pagar sem problemas, viagens, alojamento e presentes.
A dimensão há de ser diferente quando o que estão em causa receitas e lucros de milhares de milhões de dólares, como é o caso da covid-19.
E se os jornalistas são importantes para a divulgação da mensagem, é essencial garantir o apoio dos "especialistas", dos técnicos governamentais e dos decisores políticos. Máquinas Polaroid e queijos e vinhos chegarão? Dos "especialistas" já se soube alguma coisa. E dos restantes? Saber-se-á? Porque a hipótese de muitos deles terem recebido "luvas" é perfeitamente plausível. Digamos que as verbas envolvidas têm que chegue para todos.
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Que o quadro é demasiado sombrio, mostra-o as suspeitas que rodearam a saída do coordenador militar do programa de vacinação, devidamente destacadas por José António Saraiva, que aqui citei.
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