terça-feira, 5 de outubro de 2021

Censura? Talvez...

Quando me mudei de Lisboa (arredores) para Caldas da Rainha (arredores), um dos problemas que tive foi o da minha biblioteca de décadas: o que é que poderia fazer aos poucos milhares de livros que reunira e que não tinham espaço na nova casa? 

A biblioteca municipal do concelho onde morava rejeitou-os. Uma escola rejeitou-os. O centro "cultural" da minha nova Junta de Freguesia rejeitou-os. A biblioteca do Estabelecimento Prisional de Lisboa (num contacto intermediado por um psicólogo que acompanhava uma pessoa de família) aceitou uma parte. Finalmente, a Biblioteca Municipal de Caldas da Rainha aceitou os livros que restavam e eu fiquei muito satisfeito por ver o interesse profissional e pessoal demonstrado pelo seu pessoal. Uns livros ficariam, outros seriam doados, mas nenhum iria para o lixo.

A Biblioteca Municipal de Caldas da Rainha acolheu a apresentação de dois dos romances da minha autoria. Tive sempre a preocupação de oferecer para a sua colecção o que ia publicando e outros livros, mais recentes e revistas estrangeiras que poderão ser interessantes para alguns leitores.

Mas chegou um momento em que me interrogo se tal se justifica. Há poucos anos, a Biblioteca Municipal de Caldas da Rainha pôs livros da sua colecção na praia da Foz do Arelho e nenhum dos meus fazia parte dos escolhidos. Recentemente, fez recomendações mensais e o meu livro mais recente, "O Último Refúgio" foi ignorado.

Se eu tivesse a responsabilidade de fazer, ou de recomendar, qualquer escolha de livros para o público em geral, não deixaria de contemplar autores contemporâneos, em actividade e residentes na região onde fizesse essa escolha, com especial destaque (à falta de crivo mais rigoroso) para obras publicadas por editoras a sério (omitindo edições "de autor", de avaliação mais problemática).

Não foi esta a opção de quem seleccionou livros na Biblioteca Municipal de Caldas da Rainha. Numa coincidência temporal com as minhas críticas, e a sua constância, à Câmara Municipal de Caldas da Rainha, à sua gestão e ao seu medíocre universo de poder.

Exclusão com base em censura? Não sei, embora possa supor que sim. Procurando esclarecer a minha dúvida, inquiri a direcção da Biblioteca Municipal de Caldas da Rainha. Não tive resposta.

Censura, portanto? Talvez.

De qualquer modo... mais livros, ou revistas, para a Biblioteca Municipal de Caldas da Rainha? Não. Se alguém quiser ler os meus livros, que os vá comprar.


*


Sobre esta questão, a directora da Biblioteca Municipal de Caldas da Rainha enviou-me hoje (6.01.21) a seguinte resposta: 

Na verdade, no último cartaz que publicámos no facebook, com as novidades bibliográficas não está o seu recente livro, que terá sido um lapso, no entanto, se consultar o nosso catálogo online (bibliotecas.mcr.pt) verifica que está nos destaques.

No espaço físico da Biblioteca, sempre que temos livros novos oferecidos ou comprados, colocamos sempre no balcão de recepção para maior visibilidade dos leitores.
Reitero as minhas desculpas pelo lapso e agradeço muito reconhecidamente a oferta dos seus livros à Biblioteca Municipal, que muito têm enriquecido o nosso fundo documental.



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