Não gosto de pagar impostos. Não gosto, mas pago. Desagrada-me e prejudica-me o peso enorme dos impostos na economia pessoal e nacional.
Sou obrigado a passar facturas e recibos e acredito que a cobrança de impostos, embora com limites razoáveis (que há muito foram ultrapassados) contribui para a sustentação do país. Quando tenho dúvidas procuro quem me esclareça ou consulto os códigos tributários (que toda a gente tem obrigação de conhecer...).
Tive dois conflitos com o Fisco e um deles ganhei-o em tribunal (com o apoio indispensável de um dos melhores e mais discretos advogados portugueses) e o outro (com o adequado conhecimento das leis) na repartição de finanças.
Já encontrei funcionários do Fisco ofensivamente arrogantes que se transformaram em almas adoráveis quando confrontados com um documento assinado por um advogado, e outros, profissionais do seu ofício, com quem foi possível dialogar sem constrangimentos.
A decisão deste governo de sortear carros pelos contribuintes que pedem factura em formato de jogo de azar não me causa problemas nenhuns.
Tal como não me causa problemas a possibilidade de receber alguns euros na liquidação do IRS em troca do IVA que ajudei o Estado a cobrar quando peço factura.
Se essa é uma maneira de o Estado conseguir aumentar a receita fiscal (e baixar os impostos no futuro, espero eu), tanto melhor. E também não me repugna nada que o facto de cumprir os meus deveres fiscais seja objecto de recompensa. Já dei tanto ao Estado que só posso sentir-me melhor quando o Estado também dá.
Acho estranho, no entanto, o coro de indignações perante os anunciados sorteios da "Fatura da Sorte" (a designação não é grande coisa mas é popular e não esconde nada), que se parecem mais com certas declarações do género "faz o que eu digo, não faças o que eu faço" e que parecem ser reflexos pavlovianos. Talvez nunca se fizessem ouvir se fosse um governo do PS a lançar a coisa..
E se tenho grandes dúvidas sobre a sinceridade da atitude dos críticos da "Fatura da Sorte" é também porque não os ouço renunciarem ao que o Fisco lhes pode oferecer.
Não os ouço dizer que nunca aceitarão o "popó" (como escarneceu uma dirigente do BE que só deve andar de transportes públicos...).
Nem, tão pouco, que o irão a correr oferecer a um familiar mais necessitado, a um desempregado, a uma instituição de solidariedade social ou que o venderão para distribuir o dinheiro apurado pelos sem-abrigo mais próximos.
Aliás, esta será a única maneira de avaliar a seriedade ou a sinceridade altaneiras desses críticos que, se calhar, tremem como varas verdes perante a ideia de irem indignar-se a qualquer repartição de finanças.
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