Por volta das nove horas, o gajo arrasta o iate para fora do portão com o seu bólide de baixíssima cilindrada e, depois de várias manobras, manda avançar a gaja. E a gaja, bamboleante nas suas patinhas, lá vai ao encontro do chefe. E atrás dela vai o pobre do cão. Maltratado, ignorado, até gosta (coitado!) das duas criaturas que lhe saíram na rifa.
O cão tenta entrar no carro, a ganir. A gaja não deixa. Por ser a via mais fácil, o cão saíu pelo portão quando o portão ainda estava aberto. E é pelo portão que a gaja o mete dentro do terreno, numa demonstração de elevadíssima inteligência.
O portão fica fechado e a gaja regressa ao carro. O cão está seguro no interior do terreno... talvez até acreditem, ou querem que nisso acredite quem possa estar a ver.
Arrastando a traineira, os estafermos seguem viagem.
E o cão não se fica, claro. Enquanto o carro se põe em movimento, o cão corre pelo terreno, chega a um dos buracos da vedação que lhe servem de porta para entrar e sair e corre rua fora, atrás deles e do carro. Mas já vai tarde. Que interessa, aos estafermos?
Como sempre, de dia ou de noite, quando quer e perante a criminosa indiferença deles, o cão vai andando por fora, assustado, agressivo para com as pessoas e os cães que passam, mas cobarde (como os estafermos). Habituados a ignorarem-no, de dia e de noite, habituados até a deixarem-no sozinho dentro do terreno e a ausentarem-se, por mais do que um dia, para as suas passeatas, ralam-se pouco.
Pobre cão!
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