Como pai de dois filhos, que acompanhei o melhor possível desde que eram bebés, como pai e sogro de dois pais que acompanharam os seus filhos e filhas, num total de cinco, desde que nasceram e como amigo de outros pais com quem privei enquanto jovens pais, nunca vi nada assim:
Este texto foi publicado no "Expresso", em papel, na semana passada, com um enquadramento de grande dramatismo a que não faltava uma proclamação como "Os homens não têm preparação para o que os espera. Num dia saem de casa para ir[irem] trabalhar e horas depois têm um bebé no colo".
Parece, portanto, que isto às mulheres não acontece. Ou será apenas um reflexo da melancólica geração masculina do ar condicionado e das angústias, que conseguiu que os respectivos pais e mães se pusessem de joelhos perante ela, a satisfazerem todos os seus caprichos? É impossível percebê-lo nesta época de postulados de grande dramatismo teatral.
O texto é linear, como texto (mais ou menos) jornalístico: são descritos os horrendos casos dos "perdidos e angustiados" e, depois de algumas opiniões dos "especialistas", temos o essencial da coisa. Não a solução milagrosa de que as autoras do texto se poderiam fazer porta-vozes, mas a porta aberta aos que se anunciam capazes de venderem os milagres aos "perdidos e angustiados". É, com uma clareza liminar, a promoção de uma das maiores empresas do sector, a Centro Pré e Pós Parto, de Lisboa. De passagem, talvez para evitar a desconfiança do exclusivismo, ainda há uma referênia a uma empresa do Porto, a Uterus.
Esta é daquelas situações, exacerbada pelo destaque que o dito jornal lhe dá, que me suscitam as maiores suspeitas, onde situações psicológicas que talvez sejam individualizadas são transformados em crises existenciais... à medida dos interesses empresariais de quem precisa de fazer pela vida.
Porque basta ir ao Google para perceber que a concorrência neste sector (que serve para tudo, inclusivamente para actividades de "fitness") deve ser feroz, porque há muita oferta. É preciso fazer pela vida e, ficando todas as dúvidas sobre os preços destas actividades, podemos especular que, se o dinheiro escasseia para comprar fraldas e alimentos adequados para os seus bebés, mesmo os "perdidos e angustiados" mais radicais poderão sentir-se tentados a optar pelas fraldas e pela comida em vez do colinho psicológico.
O Centro Pré e Pós Parto tem, nota-se no respectivo site, uma política de comunicação. E promover-se por meio dos conteúdos dito noticiosos da imprensa "de referência" faz sempre parte das regras da coisa. Assim haja imprensa que, de uma forma ou de outra, mais falida ou menos instável, os ajude. Pode ser que pinguem algumas moedinhas...
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