Passa pouco das 18 horas de domingo quando escrevo este texto. Já
choveu, esporadicamente, e neste momento há laivos de sol e nuvens dispersas.
Nada que se pareça com este título do “Observador” de hoje:
Esta notícia (tratada como “artigo”!) de “chuva para todo o
país este fim de semana” apresenta a curiosidade de ser assinada por duas
criaturas… e pela agência Lusa. Uma delas diz que “ingressou no jornalismo de saúde,
de onde nunca mais saiu” e a outra não diz nada.
A assinatura de um texto jornalístico tem o significado de
mostrar que esse texto é, de certa forma, original. Hoje, numa altura em que as
reportagens e as investigações jornalísticas quase desapareceram e em que não
há cão nem gato que não assine notícias, tudo é assinado. Ou seja, os
funcionários, ou colaboradores apenas, dos meios de comunicação põem o nome
naquilo que não é deles. No “Observador” parece que é regra quando, só para nos
ficarmos por aqui, uma chefe assina também notícias de meteorologia da Lusa…
Neste caso, a origem que está identificada é a Lusa. Só que
não é.
Vejamos um excerto da coisa:
E é desta empresa que saem as expressões tão esfuziantemente coloridas como o “rio atmosférico” e outras. Por exemplo:
E, já agora, pagará a Lusa pela utilização tão acrítica das teorias da empresa do Meteored?
Há,
nesta atitude, uma parolice muito típica: vão buscar as “palavras caras” e usam-nas,
ganhando um estatuto que, de outra forma, não teriam.
O curioso é que, quando se esmiúça a coisa, nos deparamos não com meteorologistas… mas com geógrafos.
Tanto em Espanha, na génese do Meteored, como na condução do “tempo.pt”. Há um redactor-chefe que, como outros, é licenciado em Geografia e que, do alto do currículo que apresenta (sem referência à meteorologia), invoca o que deve ser o grande elemento que motivou a sua vocação meteorológica: “Desde pequeno que tem paixão pela Natureza, em particular por tido o que envolve a Geografia, o tempo e o clima. Desde a praia e os oceanos, ao céu e às montanhas, do cheiro das plantas e das árvores até à contemplação da beleza assustadora de trovoadas e vulcões.”
Estranha-se, no
entanto, que não tenha incluído os “rios atmosféricos” na sua confissão
passional.
E é isto que está na base dos devaneios meteorológicos da
Lusa (será que paga ao Meteored pela utilização dos seus dados?) e, em terceira
mão, do “Observador” e dos seus funcionários.
Há quem ainda chame “jornalismo” a isto. Mas eu não.
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