Vê-se o "Expresso", que espelha todas as muitas debilidades da imprensa nacional, e quase não se acredita: o discurso é, da primeira à última página, o da catástrofe apocalíptica. O mundo, obviamente à beira do fim, é composto pelas vítimas (os "infetados", que parecem ser como os zombies de "The Walking Dead") e pelas potenciais vítimas.
Não há um desvio da linha oficial do covidismo intelectual, não há vozes dissonantes sobre a pandemia/epidemia, não se aceitam narrativas heterodoxas.
A visão catrastofista é suportada pelos mesmos "especialistas" de sempre, funcionários do Estado que têm agora de defender a solidez das catástrofes que anunciaram (e que se não se concretizaram deixam abaladas as suas reputações), e pelo imediatismo dos números.
Nestes, não há testes que apenas deram positivo relativamente ao coronavírus (e que estão a ser aplicados, sem critério, a indivíduos assintomáticos, com restos de vírus que já não fazem mal a ninguém. Nem interessa que haja menos internados e menos mortos com óbitos associados ao coronavírus (independentemente da tendência para os descrever como óbitos "por coronavírus" em vez de "com coronavírus").
Para a imprensa do covidismo, um teste positivo é um "infetado", um zombie, uma alma penada, um perigo para a sociedade.
Ainda há de chegar o dia em que os tais "técnicos" que faltam (serão os que se entretêm a redigir as "normas" absurdas da Direcção-Geral de Segurança?) vão defender campos de internamento para os "infetados", com o aplauso da imprensa.
Na sexta-feira passada, o jornal espanhol "La Vanguardia" noticiou que tinham sido encontrados vestígios deste coronavírus em águas residuais de Barcelona relativas a Março de 2019. Basta isto, que depois foi retomado pela Reuters e sem desmentido, para mostrar que o vírus já existia e estava activo há um ano.
Só que, como nessa altura não houve a onda de pânico que começou na China e que a imprensa, em geral, aproveitou, os seus efeitos devem ter sido contabilizados como associados a um surto de gripe.
Ninguém se assustou.
E o mundo não acabou em 2019.
A notícia de Barcelona foi ignorada pelo "Expresso".
O jornalismo caracterizava-se pela interrogação, pela dúvida, pela abordagem racional da realidade, pelo contraditório, pela investigação. Agora já não.
Na sua edição de 14 de Março, o "Sol" deu um dos muitos tiros de partida para o pânico, não se coibia de alinhar, acefalamente, na campanha do "Fique em casa!" E, afinal, foi nos ambientes domésticos do confinamento que o vírus encontrou melhores condições para medrar.
Pode dizer-se que nessa altura não se sabia. Mas nem este jornal nem os outros quiseram reconhecer a imensa asneira em que incorreram.
Uma das maiores vítimas do coronavírus de 2020 pode ter sido o próprio jornalismo. O covidismo está a transformá-lo em jornalixo. E o lixo põe-se no lixo, não se compra.
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