Miriam Wattenberg tinha 15 anos quando, em Outubro de 1939, fugiu, com os pais e a irmã, da cidade polaca de Lodz para Varsóvia.
Os alemães tinham acabado de invadir a Polónia e a prioridade inicial foi a sobrevivência. Depois, quando conseguiram regressar a Varsóvia e já sob o domínio nazi, a prioridade da família Wattenberg alterou-se, ligeiramente. Era necessário, percebe-se, esperar, ir sobrevivendo a cada dia e confiar no fim da guerra. Apesar das fronteiras cada vez mais apertadas do gueto, apesar do terror nazi, apesar da fome, apesar da morte, ocasional e programada.
Por a mãe ter a nacionalidade americana, Miriam conseguiu escapar ao gueto. Levou consigo, na viagem para os EUA, os fragmentos do seu diário, que foi publicado pela primeira vez em 1945.
"O Diário de Mary Berg" (nome adoptado por Miriam a certa altura), título que depois se generalizou e que é publicado agora em edição portuguesa, é uma crónica dos dias de vida e de morte na Varsóvia judaica, um relato impressionante de um quotidiano que, por estranho que possa parecer, ainda conseguia reproduzir os comportamentos e as posturas sociais de uma época em que não se pensava que fosse possível a barbárie nazi.
E é nesse contraste, entre o dia-a-dia relatado pelos olhos da adolescente Mary e aquilo que nós sabemos, ou descobriremos, que vai acontecer, que se ergue esta narrativa por vezes comovedora e que termina numa terrível nota de esperança à chegada ao porto de Nova Iorque, a seguir ao relato impressionante da revolta do gueto de Varsóvia. Trazendo consigo, na limpidez do texto, a maior de todas as interrogações: porque é que isto aconteceu? E conseguiremos nós verdadeiramente responder? (Ed. Vogais/20|20, tradução minha.)
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