quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Yankees, go home... mas deixem qualquer coisinha


Que a "esquerda" já não é o que era mostra-o a crispação que, por agora, ainda só une os sindicalistas do PCP e o PS que rege a Região Autónoma dos Açores em torno da decisão norte-americana de reduzir a sua presença na base das Lajes. É natural que outros se lhes juntem, de mão estendida, disfarçando com críticas ao governo português, resumidamente porque "não fez nada".
Só que nenhum país pode, ou deve, viver na dependência da presença militar estrangeira no seu país, salvo se essa presença (legitimada ou não pelo país e /ou pelas autoridades que o dirigem) tiver um intuito claramente protector num quadro de guerra mais ou menos localizada.
A base militar das Lajes, por muito proveito que possa ter trazido aos açorianos durante dezenas de anos, é um símbolo e uma marca dessa presença, numa perspectiva daquilo que pode ter sido entendido como um “pacto de agressão” cristalizado na criação da NATO e do conflito, tornado desnecessário em 1989 pela queda do Muro de Berlim, entre o que na altura foi designado por “mundo livro” e o que também na altura era considerado o “socialismo real”.
Os EUA e o seu poder militar (salvo, talvez, na perspectiva, que os próprios rejeitam, do império benévolo inteligentemente caracterizado pelo historiador Niall Ferguson) não podem ser o sustento de uma região ou de um país estrangeiros. E compete aos próprios encontrarem alternativas.
Usar as dificuldades dos trabalhadores portugueses da base e a dependência regional dessa presença militar para exigir, num quadro de autonomia regional, ao governo de Lisboa que imponha condições que não parece ter legitimidade para impor (nem sequer no domínio do direito internacional) é um pouco tonto e acaba por traduzir-se, muito objectivamente, numa defesa da presença militar estrangeira em território português.
Exigir aos EUA (se essa exigência não tiver sido contemplada no acordo de cedência dessa parcela de território) que sustente a população das Lages, que é na prática o que acontece, é um pouco absurdo e conduz, por aqui, a uma veneração “contra natura” desse imperialismo que o PCP, o "pai" da GCTP e dos seus sindicatos, combateu.
E, já agora, não será o encerramento da base das Lages uma maneira de impedir que os “yankees” “maus” disponham de uma plataforma que lhes permita transportar armas, munições e soldados para territórios ainda mais longínquos do continente americano?...
 

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