Uma das coisas que me surpreendeu, quando me fixei numa freguesia rural de Caldas da Rainha, foi a propaganda partidária nas eleições autárquicas, primeiro em 2005 e depois em 2009.
Mais do que em Lisboa e nos seus subúrbios, os “programas” das várias candidaturas foram coisas que me fizeram lembrar, trinta anos depois, as eleições universitárias em que entrei.
E nquanto estudante, participei (entre 1975 e
1978) em eleições para várias estruturas da Faculdade de Letras de Lisboa e
lembro-me de como se faziam os programas: as candidaturas estudantis, que pouca
margem de manobra tinham na concretização do que propunham, inventariavam
aspectos em que se propunham intervir, defender, chamar a atenção, lutar por,
etc.
Normalmente, com excepções delirantes, era razoável a lista de
reivindicações. Mas o alcance era limitado: os estudantes não podiam fazer mais
do que tentar convencer os órgãos de gestão a fazerem o que eles defendiam.
No caso mais recôndito da freguesia caldense da Serra do
Bouro, que agora já nem é freguesia, a situação era pior. Os partidos que não
estavam na Junta de Freguesia portavam-se como miúdos, em versão mais alunos do
secundário do que do superior, e eram capazes de prometer e exigir tudo e o seu
contrário… incluindo um multibanco. Depois, sem votos, iam-se embora e nunca
mais se dava por eles. Nós, os estudantes, pelo menos continuávamos onde
estávamos.
Não vi, nos quatro anos que passaram desde as
últimas eleições autárquicas, mudanças na freguesia da Serra do Bouro. E agora
esta freguesia foi “agregada” a uma freguesia da cidade de Caldas da Rainha,
saltando por cima de outra que continua onde estava: no meio. O poder – e a
esse aspecto não deixaremos de voltar – transferiu-se para a cidade.
A nível nacional, o que vi foi os presidentes das
juntas de freguesia a berrar e a balir contra a extinção das freguesias, como
se as juntas fossem coisa sua. Em quatro anos, o que é que fizeram?
Protestaram. No fim, e como era previsível, a maior parte perdeu. E alguns
ganharam… novos cargos.
As eleições autárquicas deste ano parecem-me mais
do que nunca, no que se refere às freguesias, uma verdadeira inutilidade.
Amanhã: As aves de arribação das oposições
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