O "Sol" tem estado a publicar em vários volumes uma colecção com as memórias de Maria Barroso e as suas cartas ao marido, Mário Soares, nos seus anos de exílio, que são um documento histórico (e político) e também pessoal muito interessante.
Maria Barroso, que foi actriz e dirigiu quase sozinha o Colégio Moderno, foi de certa forma eclipsada por Mário Soares depois do 25 de Abril quando o então secretário-geral do PS iniciou a sua caminhada para o poder. Passou depois à categoria de "primeira dama" e manteve essa posição à sombra do ex-primeiro-ministro e ex-Presidente da República.
Mas talvez devesse ter tido um papel mais activo na vida política nacional. As cartas, dirigidas ao marido exilado entre 1961 e 1974, revelam uma mulher de espírito forte, inconformista, crescentemente magoada pelo afastamento e consciente - e como o mostram as cartas... - de que, mesmo à distância, servia de apoio a Mário Soares. Já não lhe descascando as laranjas mas tratando-lhe de tudo o que podia tratar em Lisboa, incluindo roupas e outras coisas bem mais mundanas.
Estas cartas assumem um outro significado quando se repara como há segmentos omitidos e ficaram públicos outros de tom bastante crítico, que visam também personalidades públicas e o próprio filho, João, por exemplo. Aliás, as passagens sobre João Soares talvez ajudem a perceber por que motivo o filho de Mário Soares não conseguiu chegar aos lugares cimeiros onde o pai chegou.
O seu conteúdo, ou o facto de serem uma edição do mal-amado "Sol", pode, aliás, justificar o silêncio que rodeia esta iniciativa editorial.
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