1 – A empresa Dão Sul mantém, em Carregal do Sal, na Quinta de Cabriz original (esta designação não pode ser utilizada para os seus vinhos, que não saem de uma só quinta), um restaurante que continua a merecer visita. A cozinha é muito boa, o serviço também e os vinhos, à mesa, ainda têm preços no domínio do razoável. Mas alguma coisa se há-de ter passado para manterem os papéis das ementas com ar gasto e muito manuseado e para trazerem à mesa um balde de gelo… de plástico. Podem ter motivos muito fortes, económicos ou de estilo, para não utilizarem, pelo menos, os baldes de alumínio clássicos mas esta versão de balde não condiz com o resto e, isoladamente, quando chega à mesa, faz pensar que se esqueceram da esfregona.
2 – A célebre Casa da Ínsua de Penalva do Castelo renasceu pela mão do grupo Visabeira, com um hotel de luxo e um restaurante a condizer em instalações muitíssimo bem redecoradas. Mas depois promove os seus vinhos de marca própria, associando-os à região do Dão mas dando a preponderância à adocicada casta Cabernet-Sauvignon e passando para segundo plano a “subtileza da casta Touriga Nacional”, casta que nada tem de subtil e que é a mais nobre, e mais marcante, casta da região do Dão.
3 – Aliás, a casta Cabernet-Sauvignon, autorizada em menor quantidade para os vinhos do Dão, já chegou à região e há produtores que não têm pejo em recorrer a essa forma de tornar os vinhos instantaneamente amadeirados, embora o disfarcem. E nem vale a pena pensar que o facto de não haver referência no rótulo não significa que ela não esteja presente. É o que acontece com vários monocastas de Touriga Nacional que, para encher, se socorrem discretamente de outras castas.
4 – Não é o caso do multipremiado Quinta da Fata, nascido na propriedade do mesmo nome em Vilar Seco (Nelas). Todas as uvas utilizadas são mesmo da quinta e o seu extraordinário Touriga Nacional (já está à venda o de 2009) só tem mesmo uvas desta casta. Há muitos vinhos de elevada qualidade no Dão mas não consigo deixar de regressar sempre aos da Quinta da Fata, de Maria Cremilde e Eurico do Amaral, ao seu admirável Touriga Nacional, aos seus “clássicos” (que prefiro aos “reservas”) e ao seu imponente branco da casta Encruzado, que são todos do melhor que o Dão tem. Link com todos os pormenores aqui.
5 – Nos brancos, há outro que merece aplauso: é o da Quinta da Espinhosa, de Vila Nova de Tazem, de Alberto Oliveira pinto. Utiliza as castas brancas da região e, se não tem a altivez aristocrática do Encruzado, fica muito longe dos brancos frutados que, com os rótulos do Dão, são iguais a muitos outros vinhos brancos que aparecem em todas as regiões, tipo pronto-a-vestir. É imprescindível. Telefone para contacto: 965117259.
6 – O restaurante Bem-Haja continua a ser uma referência obrigatória em Nelas, com cozinha, serviço e ambiente excelentes. Mas conviria que corrigisse os preços da sua lista de vinhos (praticamente todos do Dão, o que é de saudar), alargando o leque e evitando constrangimentos inúteis. Não terá decerto prejuízo de apresentar alguns abaixo do nível dos dez euros.
7 – A Adega Cooperativa de Nelas faliu. A atenção com que o Estado segue, em vários domínios, as cooperativas devia impor qualquer intervenção que permitisse minorar os prejuízos dos seus associados. As adegas cooperativas do Dão, e a própria Udaca, podem andar a cometer alguns erros com a proliferação exagerada de marcas que desorientam os consumidores mas ainda têm património e produções que não deviam desaparecer em processos de insolvência.
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