domingo, 4 de setembro de 2011

"CSI": a Agatha Christie pós-moderna

Não gosto de "CSI", nem de nenhuma das várias séries em que a série original se metastizou.
Por muito interessantes que possam ser, tecnicamente, por bons actores que possam ir aparecendo, por muito engenhosos, ou não, que sejam os crimes sempre resolvidos à medida dos 40 minutos de cada episódio televisivo.
O problema de "CSI" é o seu absoluto divórcio relativamente à realidade. Não há, em nenhum país do mundo, uma divisão de um qualquer órgão de polícia criminal que concentre todas as várias fases da investigação criminal, da rua aos laboratórios, da análise forense ao interrogatório de suspeitos. Nem tão rapidamente, nem de forma tão exclusiva.
O "thriller" - na televisão, na literatura e no cinema - tem de ter uma base real. Por mais extraordinários que possam ser os crimes, os criminosos ou os investigadores, o enquadramento tem de ser verídico, tem de ser realista. 
Ou, então, os seus autores têm de criar um universo ficcional que, com uma coerência interna absoluta, não se leve a sério mas nos entretenha. Como se nos dissessem: "Eu diverti-me a criar estas histórias, que são quase impossíveis e que têm personagens quase impossíveis, mas são tão bem feitas e têm personagens de que vão gostar tanto que vocês não podem deixar mesmo de gostar." (É o que acontece com a série "NCIS" e com o universo ficcional de Lee Child e do seu herói Jack Reacher.)
"CSI" não é nada disso.
E não consegue ser mais do que a versão televisiva pós-moderna de Agatha Christie. 

1 comentário:

Ivone Mendes da Silva disse...

Olhe que está cheio de razão. Lembro-me de um episódio em que havia um conjunto de pistas relacionadas com as frases latinas inscritas nas notas de dólar: do chefe aos subordinados, todos compreendiam perfeitamente a subtileza de ser usado numa frase o acusativo e noutra o ablativo.Duvido que os detectives nova-iorquinos falem assim tão bem latim. :)