Suponho que, neste sector especificamente, não há tradutor(a) que não tenha o seu (mau) exemplo do relacionamento com as empresas, ou grande parte delas, nesta matéria. Mas como tudo é muito frágil, pouca gente se queixa. Porque parece mal, ou porque têm medo ou porque acreditam demais.
Não há muito tempo, a Associação Portuguesa de Tradutores divulgou um angustiado apelo de um seu associado que tentava encontrar um contacto com uma empresa não editorial de Queluz, que lhe devia mais de cinco mil euros... há um ano. Entretanto, a empresa parecia ter "desaparecido". E eu próprio, há três anos, vi a editora GP retirar-me uma tradução porque eu me tinha queixado da multiplicação de informações contraditórias sobre a data do pagamento da anterior tradução.
Infelizmente, isto é um estado de confusão onde se mistura tudo: a má fé, a malandrice, a pulhice, a desonestidade, os problemas informáticos, as dificuldades conjunturais, o atraso no pagamento às editoras dos livros vendidos pelas livrarias... tudo e, desnecessariamente, um certo défice de informação.
Nesta matéria, tenho sempre defendido que o tradutor e o editor têm interesses convergentes e que a sinceridade e a consciência da crise económica e financeira em que nos encontramos é essencial para que as duas partes não percam tempo com dificuldades acessórias e não estraguem boas relações de trabalho desnecessariamente. Há, e ainda bem, quem concorde comigo.
Este quadro, e convém dizê-lo em bom rigor, tem um responsável indirecto, e muitas vezes directo: o Estado e a sua tradição, suja e ofensiva, de pagar o mais tarde possível. É, quanto mais não seja pelo exemplo que dá, um estímulo a que se faça ainda pior.
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