Pedro Reisinho, o editor da Gailivro, é um homem corajoso e de bom gosto, não hesitando no lançamento de obras excepcionais no domínio do fantástico, num mercado concorrencial onde há de tudo para sectores de público de gostos bem definidos. “Metro 2033”, o romance apocalíptico russo agora publicado, é um desses títulos e foi, dos livros que mais recentemente traduzi, uma extraordinária surpresa.
O cenário temporal deste romance de Dmitry Glukhovsky é 2033, depois do holocausto nuclear, e o que resta dos habitantes de Moscovo (e do resto da Rússia?) está confinado à rede do Metropolitano da capital russa.
Com as suas 180 estações, esta rede subterrânea que também foi parcialmente pensada como um abrigo nuclear pelas autoridades soviéticas, serve uma cidade que, neste altura, tem cerca de 10,5 milhões de habitantes. A extensão do cenário permite a criação de um mundo novo: as estações são verdadeiras comunidades independentes num mosaico que consegue ser duas coisas em simultâneo: um cenário estimulante para uma obra sobre o fim da humanidade (e só o facto de já haver um “Metro 2034” nos diz que ela não pereceu) e uma admirável alegoria política sobre as pequenas nações balcanizadas, com alianças, inimizades e trocas comerciais entre si, que nasceram e se desenvolveram debaixo da terra. No que toca à política e à ciência política, “Metro 2033” faz lembrar “Dune”, de Frank Herbert.
Seguindo a viagem de um jovem em busca da salvação para a sua estação, ameaçada por um perigo misterioso, “Metro 2033” é, ainda, uma inquietante visita guiada ao que restou do período soviético: a preservação do saber clássico numa biblioteca onde os bibliotecários se transformaram em monstros; os edifícios magníficos do estalinismo feitos em ruínas; os jardins cobertos pelas multidões do que será o “homem novo” do pós-apocalipse; as aves, ou dragões, que caem sobre quem se aventura por uma das mais importantes artérias do centro de Moscovo; o monstro que vive debaixo do Kremlin...
O romance de Dmitry Glukhovsky, que já deu origem a um videojogo de grande êxito (o que poderá dificultar a sua imprescindível chegada ao cinema), tem lugar de pleno direito na galeria dos grandes clássicos da ficção científica.
(Publicado no Facebook em 21.02.11)
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