domingo, 24 de abril de 2011

A literatura que parece mal



Nos anos sessenta e no início dos anos setenta, não havia quase literatura fantástica publicada em português. Parecia mal.
A Estampa tinha a saudosa colecção Livro B, na colecção Vampiro ainda apareceu um romance de H. P. Lovecraft com título “Os Mortos Podem Voltar”, as antologias do conto fantástico, com um conto do antigo Presidente da República Manuel Teixeira Gomes (“Sede de Sangue”, com um vampiro) e do “conto abominável”, ambas da Afrodite, deixaram saudades.
Sangue? Vampiros? Monstros? Horror dos horrores! Só funciona, para a grande maioria dos editores e dos círculos críticos que impõem a ditadura do “bom gosto”, quando dá dinheiro. “Crepúsculo” teve, e tem, imitadores sem fim e houve editores que se atiraram à literatura sueca como gato a bofe só porque “Let the Right One In”, de John Ajvide Lindqvist, foi um (merecido) êxito. Hoje, com carácter permanente (e com a devida “declaração de interesses”: algumas edições são traduções minhas), a Gailivro está a lançar excelentes títulos da literatura fantástica mundial, incluindo a ficção científica. E faz pena perceber que a qualidade de um vasto conjunto de obras e o interesse que suscitam em certos públicos, que se vão manifestando “on line”, não se repercutem nos meios onde impera a ditadura da sisudez e de onde é banida a literatura que, aos olhos dos seus vigilantes, é vista como “parecendo mal”.
Neste aspecto, em mais de trinta anos, evoluímos de facto muito pouco.

(Publicado no Facebook em 25.10.10)

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