Pessoa amiga disse-me há tempos que, nos anos todos que levava de leitura da revista do “Expresso” só encontrara um única informação útil: a de que o “bag in the box” não serve para o vinho verde por causa do gasoso que tem.
Senti algo parecido quando deixei ontem a leitura do suplemento “Atual”. Passam-se as páginas e não há uma nota crítica sobre cinema ou livros que anime. Nada. Há algumas coisas estimáveis mas tudo sucumbe a uma ditadura da sisudez que é deprimente.
Na televisão, há um elogio da série “Lost”, em páginas onde não me lembro de ter visto uma nota sobre “The Wire”. E, no cinema, abate-se rapidamente o filme “Deixa-me Entrar”. É um “remake” americano de um bom filme e de bom livro suecos. E não presta? Lembrei-me dos comentários favoráveis das revistas “Empire” e “Total Film” e fui tirar dúvidas com o norte-americano Roger Ebert. Gostou deste versão, dando três estrelas e meia. Roger Ebert gosta de cinema e talvez seja um dos mais respeitados críticos norte-americanos.
No “Expresso”, já não escreve Manuel Cintra Ferreira. Gostava, e gosta, de cinema e talvez tenha sido um dos mais respeitados críticos portugueses. Quando trocou o “Expresso” pela Cinemateca, deixou atrás de si um deserto seco que acredita ser o centro do universo.
[Publicado no Facebook em 25.10.10. Onze dias soube que Manuel Cintra Ferreira tinha morrido e escrevi: "Manuel Cintra Ferreira (1942-2010) gostava de cinema. Não tinha preconceitos. Tinha uma memória excepcional e muitas horas de cinema. Sabia ver e ouvir, à sua maneira. Escrevia sobre cinema e não usava a crítica de cinema para se promover. Era o Roger Ebert português. Não há outro."]
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