1 700 000 euros é o valor do resultado negativo da Câmara Municipal de Caldas da Rainha em 2024, segundo os documentos de prestação de contas e relatório de gestão relativos ao ano passado. aprovados na Assembleia Municipal de Caldas da Rainha com 15 votos a favor (do Vamos Mudar, o partido unipessoal do presidente da Câmara, e do PS) e 17 abstenções (PSD).
A notícia foi dada em 12 deste mês pelo "Jornal das Caldas", de modo absolutamente correcto. Se o endividamento das câmaras municipais não é um crime, o certo é que acontece muitas vezes e pelas piores razões.
A notícia do "Jornal das Caldas" não expressava nenhuma opinião sobre a bondade do endividamento da Câmara Municipal de Caldas da Rainha, salientando, até, que ele diminuíra, relativamente a 2013. E nem mostrava qualquer tipo posicionamento crítico perante o presidente do Vamos Mudar e da câmara, Vítor Marques, que este jornal até tem tratado muito bem.
O "ângulo mais negro" da vereadora
No entanto, a notícia não caiu bem no Vamos Mudar: a vereadora camarária Conceição Henriques, grande activista do partido unipessoal de Vítor Marques, atirou-se, no Facebook, e no próprio dia, ao "Jornal das Caldas". Não se sabe, claro, se o fez em nome do "patrão" ou por iniciativa própria. Certo é que ninguém do Vamos Mudar lhe corrigiu a postura e as declarações. Ou seja: tacitamente, o Vamos Mudar deu razão às suas palavras.
E estas foram bem incendiárias:
"É triste que quando se dá uma notícia, se escolha diligentemente o ângulo mais negro, o mais ardiloso e o que provoca mais alarme, ainda que injustificado! (...) Basta de manipulação por parte de entidades a quem foi explicado tudo isto, com toda a clareza, pelo Presidente da Câmara, mas preferem lançar suspeitas, sabe Deus, porquê! Na senda dos pequenos, médios e grandes interesses não vale tudo!"
Entra em cena o PCP... "a abanar a anca"
Um dos 18 comentários de apoio à postura da vereadora do Vamos Mudar foi, e com tom entusiástico, de José Carlos Faria, figura destacada do PCP em Caldas da Rainha e activista cultural do Teatro da Rainha, que escreveu: "'Faz-se de tudo, sempre a abanar a anca!', citando o Mário-Henrique Leiria. (Estipêndio, quanto vales tu?, digo eu...)"
Mas o comentário de José Carlos Faria, note-se, não é desinteressado, porque o Teatro da Rainha já teve, há três anos, a promessa de Vítor Marques de que a Câmara Municipal apoiaria a "viabilização" da construção da nova sede deste grupo teatral, cujo valor poderá ir aos três milhões de euros. Uma casa nova é sempre melhor do que um "estipêndio", claro... E nem sequer me pergunto se José Carlos Faria também abanará "a anca" para conseguir a sede para o seu grupo.
As estranhas despesas de "comunicação" do Vamos Mudar
"O Jornal das Caldas" demorou 11 dias a responder ao Vamos Mudar. Mas, antes disso, no dia 22 e num trabalho mais pormenorizado, voltou ao tema das despesas da Câmara Municipal de Caldas da Rainha e no domínio da comunicação. Até parece que foi de propósito!
O texto não se limita a fazer notar que o investimento neste sector por parte da Câmara Municipal está ligado às eleições (e vê-se como Vítor Marques está a fazer tudo por tudo para segurar o lugar... sem oposição), registando exemplos que, na realidade, não podem deixar de suscitar muitas dúvidas.
A Câmara Municipal de Caldas da Rainha já gasta 15 896 € em salários brutos por mês (para uma "estruturação de comunicação interna" que já tem oito pessoas), mas as suas despesas não se ficam por aí. Eis os exemplos relevados pelo "Jornal das Caldas":
- contratação de “serviços especializados na área da imagem” no valor de 15 000€(com a duração de 10 meses ou 500 horas, o que ocorrer primeiro);
- contratação de consultoria de comunicação e a assessoria de imprensa “no contexto da saúde e do da luta pela localização do novo hospital do Oeste em Caldas da Rainha” no valor de 15 000€;
- contratação da prestação de serviços para “Projeto de Design Gráfico e de Ambiente para o Hospital Termal das Caldas da Rainha” por 67 000€;
- despesa de 24 000€ com o Foz Beats (17 000€ para serviços de assessoria de comunicação e design) e com a Mostra Mercado da Cerâmica (7 000€ para assessoria de imprensa e 12 000€ para identidade visual);
- gasto de 8 000€ na presença de um programa da SIC num dos cortejos do Carnaval.
Curiosamente, nenhum destes "prestadores de serviços" aconselhou o óbvio à vereadora: que era preferível ter ficado calado.
A resposta do "Jornal das Caldas"
Só depois, no dia seguinte, é o "Jornal das Caldas" respondeu ao Vamos Mudar:
Na sua reacção, pergunta o "Jornal das Caldas": "Qual a razão do ataque da vereadora? Não gostou do título? Então mas não é um título idêntico ao de outros jornais?".
E, mais à frente, comenta: "Enfim, quando o próprio presidente da Câmara, confrontado com os ataques da vereadora, diz ao 'Jornal das Caldas' que o título é verdadeiro, o assunto é que podia era ser explorado de outra forma, na ótica dele, dizemos que temos a consciência tranquila. E é assim porque não nos dedicamos a atacar ninguém, nem tão pouco estamos ao serviço de que partido seja, como quando não se tem argumentos ou não se sabe usá-los, é o habitual comentário. De igual modo também não estamos a favorecer a Câmara quando os muitos artigos por nós publicados descrevem ações que o executivo considera serem positivas."
Depois disto, a vereadora do Vamos Mudar remeteu-se ao silêncio. Pelo menos, por enquanto. Quanto ao "post" do Facebook, no entanto, continua bem visível.
(Imagens de fonte aberta de acesso público.)
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