terça-feira, 4 de junho de 2024

Ler jornais já não é saber mais (217): a agenda do medo numa imprensa rasca e à rasca



Tudo "pode" e "não pode"...

O sangue no chão ou a descrição de um crime violento já não devem servir para vender jornais, porque já pouca presença têm nas primeiras páginas. 

E, agora, serão as campanhas de medo que alguém acha que servem para vender jornais? É demasiado primário e eu, ainda assim, duvido de que alguém acredito nisso. Mas registo: a melancólica imprensa que temos é disso que começou a gostar e sempre na mesma desgraçada monotonia.

Em 2020 e em 2021 foi a mais sobrevalorizada pandemia de sempre que serviu para promover o medo (ou o pânico, irracional, mais precisamente). Depois, e terminada a coisa, foram  as "alterações climáticas" e o frio e o calor, invariavelmente "extremos" e, afinal, nada fora dos valores normais de cada época. (É interessante verificar, aliás, que a crise ucraniana não tem sido usada como factor de medo... talvez para manter a opinião pública na mansa convicção de que uns são os "bons" e os outros são os "maus" e de que "vai ficar tudo bem".) 

Regressemos à comum  campanha de medo. Neste domingo que passou, a par e passo, o "Correio da Manhã" e o "Jornal de Notícias" (este com requintes de desespero) repescaram a agenda do medo. 

O primeiro foi buscar a covid-19 (a doença causada pelo vírus dessa pandemia) e, sem enquadramento, garante "200 contágios por dia". Foi como se recuássemos aos anos de chumbo de 2020 e de 2021. Esses "contágios"(medidos como e com que consequências práticas?) são causa de morte ou de doença grave quando o vírus se tornou, há muito tempo, endémico? Não. É um número, apenas, erguido para assustar.

Quanto ao "Jornal de Notícias", obviamente desesperado em matéria de vendas e de sobrevivência, e no dia em que assinalava um aniversário (com omissão directa da data...) e na véspera de garantir que o actual primeiro-ministro "abre porta" à aplicação da lei do mecenato à imprensa, escorregava numa notícia de "pode": o "mar mais quente (...) pode ser perigoso". O "pode" vale isso mesmo: tanto "pode" como não ("não pode").

Que ironia: arrotar postas de pescada ao assinalar um aniversário para afirmar que, no verão português de influência mediterrânica, o mar "mais quente" é um perigo! Só falta ao vetusto "JN" dizer aos veraneantes que devem ir a banhos para as águas sempre mais frias do Noroeste português porque a água do Algarve, sempre "mais quente" é... um perigo. Como o "JN" não se vende no Algarve, também não faria mal. O comércio nortenho agradeceria e talvez se derramasse em alguma publicidade para esta publicação que, afinal, pouco mais consegue ser do que um órgão, de maior dimensão, da imprensa regional.






"Pode"... ou não




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