segunda-feira, 10 de junho de 2024

A banalização do estilo Birkenstock e o olho do cu





A impressão já a tinha tido no verão do ano passado, mas foi necessário ir há uma semana ao triângulo Grândola - Melides - Comporta (na própria vila e num dos pontos desse triângulo que é o restaurante, sempre interessante, Tia Rosa) para o verificar. O calor já apertava, a atmosfera era de fim-de-semana e abundavam, pareceu-me, os visitantes de segunda habitação com as suas sandálias Birkenstock, quando em Caldas da Rainha ainda andava quase tudo de pé escondido.

É difícil, por vezes, perceber quais são as sandálias genuinamente Birkenstock e quais são as suas imitações, mas o estilo é sempre o mesmo: sola lisa e correias mais ou menos largas e em geral sem irem ao calcanhar. A parte interior, pelo menos nas Birkenstock genuínas, tem um formato quase ortopédico e quem as usa sabe como são confortáveis. A empresa alemã Birkenstock, que as fabrica e que nasceu há mais de duzentos anos, também faz sapatos e botas, embora em menor variedade, e todo o seu calçado tem duas características bem específicas: o conforto e o preço. E este é, em geral, acima da média com as simples sandálias a poderem custar mais de 70€ e as botas a irem além dos 150€.

Mas, é claro, as imitações devem ser muito mais baratas e, à distância, quem é que nota a diferença?

Ou seja: dá para perceber que o estilo Birkenstock está mesmo na moda e, como tantas vezes acontece (veja-se o caso dos ténis All Stars), as pessoas não se importam de usar todas a mesma coisa.

Só que eu, por exemplo, importo-me. 

Comecei, há poucos anos, a usar as sandálias Birkenstock depois de também ver toda a gente a usar as havaianas, que achei interessantes quando apareceram, mas agora já as deixei de lado. É uma daquelas situações em que só me apetece dizer que, agora, as Birkenstock são como o olho do cu: toda a gente tem!

E eu, enquanto não são moda e não as vejo por todo o lado, mudei-me para as sandálias tipo "barefoot" da marca espanhola Pies Sucios.

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A expressão "é como o olho do cu: toda a gente tem" não é minha. Ouvi-a, pela primeira vez, em 1986 quando, em conversa com colegas (ou camaradas de redacção, como se dizia) no extinto semanário "O Jornal", disse, muito satisfeito, que tinha comprado um Renault 5. Um veterano que viera da impressão a chumbo para a composição digital que tinha por base uma rede de computadores da Apple, e que foi uma das pessoas mais extraordinárias que conheci, fez-me esse mesmo comentário: "Um Renault? É como o olho do cu: toda a gente tem!" Chamava-se Luís de Araújo e nunca o esquecerei.










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